Em entrevista ao Saúde
Business, Antonio Silva, Strategy & Access Enabler da Roche, dividiu
perspectivas e os desafios de ampliar o acesso às soluções de saúde no Brasil
Aline Romero Martins |
09 Set, 2022
Há 13 anos na Roche, passando
por posições diversas dentro e fora do Brasil, Antônio Silva assumiu em
setembro do ano passado um desafio: o cargo de Strategy & Access Enabler da
companhia. Com a premissa desafiadora de promover estrategicamente o acesso à saúde
a partir das soluções da empresa, Antonio defende que valores como coragem,
integridade e paixão tem sido a base da transformação que a Roche busca.
“Quando falamos de transformar, falamos principalmente da coragem de tomar
decisões e desafiar o status quo. Queremos mudar nosso olhar e deixar de
entregar só uma tecnologia para passar a fazer parte da construção da solução
de um ecossistema complexo”, acredita.
O executivo destaca que os
últimos anos da Roche foram de mudança de foco para uma abordagem holística das
dores e oportunidades de ação do setor de saúde, buscando a construção de um
sistema mais humano e focado na prevenção. O foco em acesso tem guiado ações da
Roche que vão além da atuação tradicional de uma indústria
farmacêutica. Em prol do acesso - a próxima grande barreira da saúde - , a
empresa lista ações voltadas para a medicina diagnóstica, o suporte ao paciente
durante a jornada e a identificação de gargalos que dificultam o acesso ao
tratamento. “Descobrimos ao longo desses anos que muitas vezes o problema
não é a solução oferecida para o tratamento, mas como, quando e com que
frequência esse paciente chega ao sistema de saúde”, defende o executivo. “Se
a gente desenvolve soluções que não chegam no paciente, nosso trabalho está
incompleto”, acredita.
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Nessa entrevista exclusiva ao
Saúde Business, Antonio Silva divide suas percepções sobre a urgência do acesso
e de que forma podemos, enquanto setor, responder a essas demandas.
Healthcare Impact Plan e a
promoção de ações conjuntas
Grande parte das ações da companhia é guiada pelo Healthcare
Impact Plan (HIP), também chamado de plano de transformação da saúde - uma
metodologia global desenvolvida pela Roche para identificar e priorizar ações
necessárias para garantir mais eficiência e sustentabilidade aos ecossistemas
de saúde. Por meio do HIP, afiliadas da empresa ao redor do mundo têm
desenvolvido planos integrados e estratégicos que permitem à empresa colaborar
com os principais desafios de saúde em diferentes nações - tendo sempre a
colaboração como princípio-chave. No Brasil, a partir das análises
iniciais, quatro áreas de atuação foram priorizadas: novas
tecnologias, infraestruturas eficientes, soluções de financiamento e dados em
saúde.
Como exemplo de atuação
integrada, Antonio destaca as ações do ConectSUS durante a pandemia e a
cobertura vacinal da COVID-19, que exigiu tanto tecnologia e cooperação
interoperável. “Essa integração entre os diversos players, por meio
da tríade de ciência, tecnologia e dados em prol de uma decisão clínica e
melhor decisão de alocação de recursos, é pra onde estamos indo. É nesse futuro
que estamos mirando”, afirma.
Player importante do setor, a
Roche se posiciona como um incentivador do ecossistema de saúde, em ações
coletivas para uma jornada mais fluida e mais acessível para o paciente. “Hoje,
sabemos que nem todos os agentes estão dispostos a cocriar. Mas não queremos
impor nossa visão: queremos sentar e criar juntos. Por isso, trabalhamos para
identificar quem são os agentes que têm interesse em começar essas conversas e
nos dedicamos a trabalhar com eles”, posiciona. “Na Roche, falamos
sempre que nosso inimigo é a doença, não as outras indústrias. A ciência vai
vencer - seja a minha solução ou a do meu concorrente, nosso objetivo comum
deve ser erradicar o câncer, por exemplo. Queremos encontrar a melhor solução
para o paciente e sua jornada pelo sistema, colaborando com os outros agentes
da transformação”, comenta.
“Acreditamos que mesmo os
avanços pequenos são positivos, porque são parte do caminho que vai levar às
grandes transformações. Queremos fazer essa mobilização acontecer”, diz,
reforçando que a empresa incentiva ações locais e controladas, que possam
servir como provas de conceito e atrair mais parceiros para a discussão. “Temos
encontrado ilhas de excelência e inovação em vários lugares do Brasil. Nosso
próximo desafio é levar os outros atores a replicarem os cases de sucesso em
outras regiões”, finaliza.
Sustentabilidade de longo
prazo: o próximo ciclo político e a saúde
Prestes a entrar em um novo
ciclo de gestão federal e estadual, o Brasil se vê diante de oportunidades e
desafios para a saúde pública e suplementar. “Apesar de tudo, não podemos
perder de vista as coisas boas que a pandemia nos trouxe, com avanços na
abertura de debates e diálogos, criando novos pilares e políticas em prol do
crescimento. Precisamos manter as conversas ativas e trazer o ‘por que não?'
para a mesa”, defende o executivo, reforçando novamente a urgência da cooperação
entre os players, inclusive a saúde pública. “Em minha carreira,
tive a oportunidade de acompanhar centenas de projetos inovadores, que geraram
real impacto aos pacientes, mas pecaram na sustentabilidade. Projetos cuja
duração era pré-determinada e/ou dependentes de uma única fonte de
financiamento do setor privado - sendo, assim, bastante vulneráveis”,
aponta. “A sustentabilidade do sistema passa por uma política pública
revisada passo a passo e com recursos vindos de vários players, para não
exaurir um único agente”, diz.
Antonio defende que mais do
que criar novas políticas, precisamos construir o hábito de visitá-las com
frequência. “As políticas públicas precisam estar preparadas para avaliar se
elas ainda são eficientes ou se já estão preparadas para dar um salto”,
acredita. Sobre a próxima gestão, o executivo da Roche reforça que a Saúde foi
severamente afetada pelos anos de pandemia e que a quantidade represada de
pacientes crônicos, que vai entrar nos sistemas de saúde já em momentos mais avançados
de suas doenças, vai exigir ações à altura tanto do Governo quanto da
iniciativa privada, colocando à prova as lições de cooperação e digitalização
desenvolvidas nos últimos dois anos. “Não podemos perder de vista a cultura de
aprendizado contínuo que desenvolvemos na pandemia, garantindo a mobilização e
trazendo mais agentes para a conversa”, finaliza.
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