Além
das 65 milhões de doses por ano para o Ministério da Saúde, o instituto
poderá oferecer outras 60 milhões para o Hemisfério Norte já em 2020
Elisa
Martins
27/07/2019
- 04:30 / Atualizado em 27/07/2019 - 11:44
Produção
de vacina no Instituto Butantan, em São Paulo, vai ganhar investimentos Foto:
Edilson Dantas / Agência O Globo
SÃO
PAULO — Canteiros de obras, andaimes, caminhões e guindastes dividem espaço
hoje no Instituto Butantan , junto à Cidade
Universitária, na Zona Oeste de São Paulo.
A
instituição pública centenária, referência nacional na produção
de soros e vacinas , está em expansão. E se prepara, em
meio a surtos como o de sarampo e a queda na cobertura vacinal da população ,
para intensificar a fabricação de imunizações e até exportar vacina —
a da gripe , um de seus carros-chefe.
A
planta que hoje produz a vacina influenza trivalente sazonal está
em obras de ampliação e adequação às exigências da Organização
Mundial da Saúde ( OMS ) para se lançar ao mercado
internacional. A autorização é esperada para outubro deste ano.
Com
a capacidade aumentada, além das 65 milhões de doses contra a gripe que o
Butantan já produziu neste ano como único fornecedor para o Ministério
da Saúde , o instituto poderá oferecer pelo menos outras 60 milhões de
doses para o Hemisfério Norte já no ano que vem.
—
Não podemos ficar na dependência exclusiva do dinheiro público — diz o diretor,
Dimas Tadeu Covas, à frente do instituto desde 2017. — Triplicamos a capacidade
de produção da fábrica da gripe e, no ano passado, já atendíamos integralmente
o ministério. A partir deste ano, geramos capacidade adicional. Hoje
podemos ter dois períodos de produção no ano, e trabalhamos para que a
partir de 2020 nossa vacina esteja disponível para outros países também.
Produção
de vacina contra dengue no Butantan, em SP. Planta do instituto será ampliada
Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
O Butantan
aguarda, ainda, a liberação de um pedido inédito de financiamento
ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de
US$ 450 milhões (cerca de R$ 1,8 bilhão) para a construção de um novo centro de
produção de imunizações.
A
planta será dedicada à fabricação de sete vacinas: HPV, hepatite
A, hepatite B, difteria, tétano, coqueluche (pertússis) e coqueluche
(pertússis) acelular.
—
Já fizemos a discussão preliminar do projeto, e o banco avaliou que temos
condição de assumir o empréstimo. Agora o projeto depende de
detalhamento — explica Covas.
Em
agosto, ele acompanhará o governador de São Paulo, João Doria, na comitiva
de uma viagem à China. Projetos em saúde ganharam importância nas
negociações do grupo previstas no outro lado do mundo.
—
Pensamos em complementação das cadeias de produção e, talvez, até em ajuda
no projeto do centro de produção de vacinas. A China tem grande capacidade de
investimento e pesquisa avançada — diz Covas.
Parque
ganhou um macacário
O
centro administrativo da instituição, onde fica a direção, é um dos poucos que
não passa hoje por remodelação ou obra. Até o parque do instituto, uma
área com 80 hectares de verde e três museus, passou por mudanças e ganhou um
macacário.
Perto
dali, operários aceleram a construção de outra fábrica, para produção de
seis anticorpos monoclonais, que são medicamentos de alto custo fornecidos pelo
SUS e utilizados no tratamento de câncer e doenças autoimunes. Em uma
parceria com a farmacêutica Libbs, a planta deve ficar pronta no ano que
vem.
Atrás
dessa planta, mais uma se prepara para acelerar a produção. É a de
vacina para dengue, um projeto que está em fase 3 de estudos clínicos, com
cerca de 17 mil voluntários vacinados, outro carro-chefe do Butantan.
—
Com tudo pronto, a planta terá capacidade de produzir cerca de 30
milhões de doses por ano — diz Eduardo Adami, gerente de produção e responsável
pela fábrica de vacina da dengue.
O
produto partiu de um licenciamento do Instituto Nacional de Saúde (NIH), dos
Estados Unidos. Os testes já indicaram a segurança da vacina e que
ela induz a formação de anticorpos para os quatro sorotipos do vírus da dengue.
Falta
avaliar a eficácia, o que quer dizer se os anticorpos produzidos são
suficientes para proteger da doença. A previsão é que os
resultados sejam anunciados até o início de 2021.
—
Agora dependemos da circulação do vírus entre a população para comprovar a
eficácia da vacina — diz a gerente de projetos de vacinas virais Neusa
Gallina, responsável pelo desenvolvimento da vacina contra a dengue do
Butantan. — Imagine com uma única dose, segundo os testes indicam até
agora, poder ter uma imunização eficiente. Não de 100%, porque nem todos
respondem, mas que seja de 90%. Isso significa que 90% dos vacinados não
terão mais dengue. É um significado importante não só para o Brasil, mas
para o mundo.
A
iniciativa chamou a atenção da farmacêutica americana Merck Sharp and
Dhome (MSD), que, no ano passado, anunciou um acordo inédito com
o Butantan de colaboração tecnológica e pesquisa.
O
centro brasileiro já começou a receber parte dos US$ 101 milhões previstos no
trato, que serão investidos em pesquisa e na produção de outras vacinas.
Para
além das vacinas, também está nos planos do instituto aumentar a produção de
soros e bater centros de produção de China e Índia na liderança da fabricação
mundial de remédios para picadas de animais peçonhentos.
A
longo prazo, outra aposta é substituir a produção de soros hoje feita
em animais para a área de anticorpos monoclonais, o que significaria,
na prática, substituir os cavalos pela produção em laboratório. Os
investimentos já começaram.
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