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domingo, 28 de julho de 2019

Butantan se expande para exportar vacina contra a gripe


Além das 65 milhões de doses por ano para o Ministério da Saúde, o instituto poderá oferecer outras 60 milhões para o Hemisfério Norte já em 2020

Elisa Martins
27/07/2019 - 04:30 / Atualizado em 27/07/2019 - 11:44


Produção de vacina no Instituto Butantan, em São Paulo, vai ganhar investimentos Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

SÃO PAULO — Canteiros de obras, andaimes, caminhões e guindastes dividem espaço hoje no Instituto Butantan , junto à Cidade Universitária, na Zona Oeste de São Paulo.




A instituição pública centenária, referência nacional na produção de soros e vacinas , está em expansão. E se prepara, em meio a surtos como o de sarampo e a queda na cobertura vacinal da população , para intensificar a fabricação de imunizações e até exportar vacina — a da gripe , um de seus carros-chefe.

A planta que hoje produz a vacina influenza trivalente sazonal está em obras de ampliação e adequação às exigências da Organização Mundial da Saúde ( OMS ) para se lançar ao mercado internacional. A autorização é esperada para outubro deste ano.

Com a capacidade aumentada, além das 65 milhões de doses contra a gripe que o Butantan já produziu neste ano como único fornecedor para o Ministério da Saúde , o instituto poderá oferecer pelo menos outras 60 milhões de doses para o Hemisfério Norte já no ano que vem.

— Não podemos ficar na dependência exclusiva do dinheiro público — diz o diretor, Dimas Tadeu Covas, à frente do instituto desde 2017. — Triplicamos a capacidade de produção da fábrica da gripe e, no ano passado, já atendíamos integralmente o ministério. A partir deste ano, geramos capacidade adicional. Hoje podemos ter dois períodos de produção no ano, e trabalhamos para que a partir de 2020 nossa vacina esteja disponível para outros países também.

Produção de vacina contra dengue no Butantan, em SP. Planta do instituto será ampliada Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

O Butantan aguarda, ainda, a liberação de um pedido inédito de financiamento ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de US$ 450 milhões (cerca de R$ 1,8 bilhão) para a construção de um novo centro de produção de imunizações.

A planta será dedicada à fabricação de sete vacinas: HPV, hepatite A, hepatite B, difteria, tétano, coqueluche (pertússis) e coqueluche (pertússis) acelular.

— Já fizemos a discussão preliminar do projeto, e o banco avaliou que temos condição de assumir o empréstimo. Agora o projeto depende de detalhamento — explica Covas.

Em agosto, ele acompanhará o governador de São Paulo, João Doria, na comitiva de uma viagem à China. Projetos em saúde ganharam importância nas negociações do grupo previstas no outro lado do mundo.

— Pensamos em complementação das cadeias de produção e, talvez, até em ajuda no projeto do centro de produção de vacinas. A China tem grande capacidade de investimento e pesquisa avançada — diz Covas.

Parque ganhou um macacário
O centro administrativo da instituição, onde fica a direção, é um dos poucos que não passa hoje por remodelação ou obra. Até o parque do instituto, uma área com 80 hectares de verde e três museus, passou por mudanças e ganhou um macacário.

Perto dali, operários aceleram a construção de outra fábrica, para produção de seis anticorpos monoclonais, que são medicamentos de alto custo fornecidos pelo SUS e utilizados no tratamento de câncer e doenças autoimunes. Em uma parceria com a farmacêutica Libbs, a planta deve ficar pronta no ano que vem. 

Atrás dessa planta, mais uma se prepara para acelerar a produção. É a de vacina para dengue, um projeto que está em fase 3 de estudos clínicos, com cerca de 17 mil voluntários vacinados, outro carro-chefe do Butantan. 

— Com tudo pronto, a planta terá capacidade de produzir cerca de 30 milhões de doses por ano — diz Eduardo Adami, gerente de produção e responsável pela fábrica de vacina da dengue.

O produto partiu de um licenciamento do Instituto Nacional de Saúde (NIH), dos Estados Unidos. Os testes já indicaram a segurança da vacina e que ela induz a formação de anticorpos para os quatro sorotipos do vírus da dengue.

Falta avaliar a eficácia, o que quer dizer se os anticorpos produzidos são suficientes para proteger da doença. A previsão é que os resultados sejam anunciados até o início de 2021. 
— Agora dependemos da circulação do vírus entre a população para comprovar a eficácia da vacina — diz a gerente de projetos de vacinas virais Neusa Gallina, responsável pelo desenvolvimento da vacina contra a dengue do Butantan. — Imagine com uma única dose, segundo os testes indicam até agora, poder ter uma imunização eficiente. Não de 100%, porque nem todos respondem, mas que seja de 90%. Isso significa que 90% dos vacinados não terão mais dengue. É um significado importante não só para o Brasil, mas para o mundo. 

A iniciativa chamou a atenção da farmacêutica americana Merck Sharp and Dhome (MSD), que, no ano passado, anunciou um acordo inédito com o Butantan de colaboração tecnológica e pesquisa.

O centro brasileiro já começou a receber parte dos US$ 101 milhões previstos no trato, que serão investidos em pesquisa e na produção de outras vacinas. 

Para além das vacinas, também está nos planos do instituto aumentar a produção de soros e bater centros de produção de China e Índia na liderança da fabricação mundial de remédios para picadas de animais peçonhentos.

A longo prazo, outra aposta é substituir a produção de soros hoje feita em animais para a área de anticorpos monoclonais, o que significaria, na prática, substituir os cavalos pela produção em laboratório. Os investimentos já começaram. 




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