Para combater a escassez de
água potável no Semiárido nordestino, região em que morava, a brasileira Anna
Luisa Santos, de 15 anos, criou o Aqualuz, uma tecnologia que purifica água por
meio de radiação ultravioleta.
O dispositivo é acoplado às
cisternas (reservatórios de coleta de chuva comumente utilizados no Semiárido
brasileiro) e elimina 99,9% das bactérias, sem usar nenhum produto químico.
A inovadora é uma das
finalistas do prêmio Jovens Campeões da Terra, da ONU Meio Ambiente, e
conversou com a agência das Nações Unidas sobre sua empresa e o tema da
segurança hídrica para as próximas gerações. Leia a entrevista completa.
A água é um recurso
fundamental para a vida no planeta. Porém, o acesso à água potável ainda não é
uma realidade para mais de um quarto da população mundial. Mais de 60% das
zonas úmidas naturais foram perdidas para a atividade humana no último século.
A água é um recurso
fundamental para a vida no planeta. Porém, o acesso à água potável ainda não é
uma realidade para mais de um quarto da população mundial. Mais de 60% das
zonas úmidas naturais foram perdidas para a atividade humana no último século.
Em várias regiões do mundo, há
cada vez mais insegurança hídrica por conta das mudanças climáticas. Além da
escassez, estima-se que 1,8 bilhão de pessoas em todo o mundo bebam água
imprópria para o consumo humano, o que tem impacto direto na saúde.
Em 2010, a Assembleia Geral
das Nações Unidas reconheceu o direito à água e ao saneamento como um direito
humano. Em 2015, os Estados-membros da ONU adotaram um novo plano de ação para
o desenvolvimento sustentável, a Agenda 2030, que estabeleceu entre seus
objetivos o de assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e
saneamento para todos e todas (ODS 6).
Diante disso, Anna Luisa
Santos, uma jovem brasileira apaixonada por ciência, decidiu agir. Aos 15 anos,
inscreveu-se no Prêmio Jovem Cientista com a proposta de solucionar o problema
de escassez de água potável na região onde morava, o Semiárido nordestino. Ela
não venceu, mas continuou aperfeiçoando sua ideia.
Em 2018, ela participou do
Camp de Ecoinovação, promovido por ONU Meio Ambiente, Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e plataforma Green Nation, durante
o Fórum Mundial da Água, no ano passado, e venceu na categoria “ideias”. No
mesmo ano, com apoio do Instituto TIM, lançou os primeiros modelos do Aqualuz,
uma tecnologia que purifica a água por meio de radiação ultravioleta.
O dispositivo é acoplado às
cisternas (reservatórios de coleta de chuva comumente utilizados no Semiárido
brasileiro) e elimina 99,9% das bactérias, sem usar nenhum produto químico
tóxico. Além de uma vida útil de 20 anos, a manutenção é simples e o custo é de
três centavos a cada 10 litros de água tratada. O Aqualuz já está presente em
53 residências, em cinco dos nove estados do Semiárido brasileiro.
Anna Luisa Santos é uma das
finalistas do prêmio Jovens Campeões da Terra e conversou com a ONU Meio
Ambiente sobre sua empresa Safe Drink for All/Aqualuz e sobre o tema da
segurança hídrica para as próximas gerações.
O Prêmio Jovens Campeões da
Terra, apoiado pela empresa alemã Covestro, é a principal iniciativa da ONU
Meio Ambiente para jovens com soluções inovadoras para enfrentar os principais
desafios ambientais do nosso tempo.
ONU Meio Ambiente: Quando
surgiu a ideia do Aqualuz e como você conseguiu torná-la realidade?
Anna Luisa Santos: Sempre
lembro de um dia na escola quando vi o cartaz para o prêmio de jovem cientista.
O tema era a água e, por coincidência, aquele ano (2013) tinha sido
estabelecido pela UNESCO como o Ano Internacional de Cooperação para a Água.
Como eu estava muito
interessada em ciência, decidi elaborar um projeto, olhando para tecnologias
sustentáveis de tratamento de água. Eu não ganhei o prêmio, mas o projeto foi
tão especial que segui trabalhando nele.
Alguns anos depois, quando
comecei a cursar Biotecnologia na Universidade Federal da Bahia, um dos
professores me incentivou a melhorar e desenvolver a ideia. Acho que sair dos
círculos científicos e começar a olhar de maneira empreendedora também criou
possibilidades que permitiram tocar o projeto.
Em 2015, fundei a startup Água
Potável e Segura para Todos (Safe Drink for All, em inglês). Cercada por muitos
parceiros, membros de equipe e sonhando em transformar o mundo por meio da
água, o projeto alavancou.
ONU Meio Ambiente: Em que
ponto você decidiu redirecionar a ideia para a região do Semiárido? Como isso
aconteceu?
Anna Luisa Santos: Cresci no
estado da Bahia, que abriga uma grande parcela do Semiárido brasileiro, e
sempre ouvi falar muito das dificuldades da vida nas regiões mais pobres — da insegurança
alimentar à escassez de água.
Com o fortalecimento do
projeto, ficou evidente que a tecnologia era mais adequada para aquela região.
Ficamos realmente muito felizes quando vimos que a ideia poderia desempenhar um
grande papel em regiões com maior vulnerabilidade hídrica.
Ao desenvolver uma tecnologia
inovadora, além de pensar na eficiência técnica, devemos sempre pensar nos
usuários finais, de forma a criar algo que possa integrar-se aos valores e
costumes locais.
ONU Meio Ambiente: Como as
premiações, os processos de aceleração e os mecanismos de apoio ajudam o
Aqualuz?
Anna Luisa Santos: Eles nos
ajudam muito! Por exemplo, ganhamos o Camp de Ecoinovação organizado por ONU
Meio Ambiente e SEBRAE no Fórum Mundial da Água em 2018. Isso nos deu muita
credibilidade e abriu portas para buscarmos financiamento e assistência. As
parcerias nos permitiram implementar os primeiros projetos, receber orientações
e mentorias, além de contar com uma rede com potenciais parceiros.
ONU Meio Ambiente: Como você
imagina o futuro e os desafios para o projeto?
Anna Luisa Santos: Nosso
objetivo no curto prazo é alcançar todos os estados do Semiárido brasileiro.
Ainda faltam quatro de nove. No longo prazo, queremos que o Aqualuz esteja
presente em todas as regiões semiáridas do mundo, seja na América Latina, na
África ou na Ásia, atendendo todas as pessoas que demandam essa tecnologia.
Ao mesmo tempo, na Safe Drink
for All, pretendemos desenvolver outras tecnologias para saneamento, gestão de
resíduos e fazer análises sobre outras questões relacionadas à água.
ONU Meio Ambiente: Que
conselho você daria aos jovens inspirados que querem enfrentar os desafios
ambientais e sociais do nosso tempo?
Anna Luisa Santos: Do que eu
aprendi, resiliência é a palavra-chave. Nesses anos de desenvolvimento da
ideia, tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas brilhantes, negócios
sociais empreendedores, e a diferença entre aqueles que fazem isso e aqueles
que estão estagnados é a persistência.
Às vezes não é suficiente ter
uma ideia interessante, você também precisará mostrar que ela é realmente
viável, seja testando ou aperfeiçoando. Dificuldades sempre aparecerão, mas se
você realmente acredita na ideia e tem o sonho de mudar o mundo, permaneça
resiliente e esse sonho se materializará.
Foto: ONU Meio Ambiente
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