Minhas senhoras e meus
senhores,
Como todos sabem, participei
hoje como representante desta Casa de encontro com o senhor Presidente da
República e todos os Chefes de Poderes para tratar de uma abordagem eficaz,
pragmática e holística da questão da pandemia.
Pandemia é vacinar, sim, acima
de tudo. Mas para vacinar temos de ter boas relações diplomáticas, sobretudo
com a China, nosso maior parceiro comercial e um dos maiores fabricantes de
insumos e imunizastes do planeta. Para vacinar temos de ter uma percepção
correta de nossos parceiros americanos e nossos esforços na área do meio
ambiente precisam ser reconhecidos, assim como nossa interlocução.
Então, essa mudança de atitude
em relação à pandemia, quero crer, é a semente de algo muito maior, muito mais
necessário e, diria, urgente é inadiável: será preciso evoluir, dar um salto
para a frente, libertamos as amarras que nos prendem a condicionamentos que não
funcionam mais, que nos escravizam a condicionamentos que já se esgotaram.
Minhas senhoras e meus
senhores,
Esta Presidência tem procurado
se conduzir na trilha de um estrito equilíbrio entre o espírito de colaboração
que, mais que nunca, é necessário manter e construir com os demais Poderes
durante estes momentos dramáticos da pandemia e a observância fiel e
disciplinada à vontade soberana desta Casa.
Vivemos nestes dias o pior do
pior, as horas mais dolorosas da maior desgraça humanitária que se abateu sobre
nosso povo. E quero dizer a todos que estou sensível ao desespero dos
brasileiros e à angústia de Vossas Excelências, que nada mais fazem do que
traduzir o terror que testemunham em suas bases, em suas comunidades.
Como presidente da Câmara dos
Deputados, quero deixar claro que não ficaremos alienados aqui, votando
matérias teóricas como se o mundo real fosse apenas algo que existisse no
noticiário. Estou apertando hoje um sinal amarelo para quem quiser enxergar:
não vamos continuar aqui votando e seguindo um protocolo legislativo com o
compromisso de não errar com o país se, fora daqui erros primários, erros
desnecessários, erros inúteis, erros que que são muito menores do que os
acertos cometidos continuarem a serem praticados.
E eu aqui não estou
fulanizando. Dirijo-me a todos que conduzem os órgãos diretamente envolvidos no
combate à pandemia. O Executivo federal, os executivos estaduais e os milhares
de executivos municipais também. Como sabemos, o sistema de saúde é tripartite.
Mas, também sabemos, a política é cruel e a busca por culpados - sobretudo em
momentos de desolação coletiva - é um terreno fértil para a produção de
linchamentos. Por isso mesmo, todos tem de estar mais alertas do que nunca pois
a dramaticidade do momento exige.
A razão não está de um lado só, com certeza. Os erros não estão de um lado só, sem dúvida. Mas, acima de tudo, os que tem mais responsabilidade tem maior obrigação de errar menos, de se corrigir mais rapidamente e de acertar cada vez mais. É isso ou o colapso.
Também não é justo descarregar
toda a culpa de tudo no governo federal ou no presidente. Precisamos, primeiro,
de forma bem intencionada e de alma leve, abrir nossos corações e buscar a
união de todos, tentar que o coletivo se imponha sobre os indivíduos. Esgotar
todas as possibilidades deste caminho antes de partir para as
responsabilizações individuais. É nesse esforço solidário e genuíno que estarei
engajado, junto com os demais poderes. Mas será preciso que essa capacidade de
ouvir tenha como contrapartida a flexibilidade de ceder. Sem esse exercício, a
ser praticado por todos, esse esforço não produzira os resultados necessários.
Os remédios políticos no
Parlamento são conhecidos e são todos amargos. Alguns, fatais. Muitas vezes são
aplicados quando a espiral de erros de avaliação se torna uma escala geométrica
incontrolável. Não é esta a intenção desta Presidência. Preferimos que as
atuais anomalias se curem por si mesmas, frutos da autocrítica, do instinto de
sobrevivência, da sabedoria, da inteligência emocional e da capacidade
política.
Mas alerto que, dentre todas
as mazelas brasileiras, nenhuma é mais importante do que a pandemia. Esta não é
a casa da privatização, não é a casa das reformas, não é nem mesmo a casa das
leis. É a casa do povo brasileiro. E quando o povo brasileiro está sob risco
nenhum outro tema ou pauta é mais prioritário.
Então, faço um alerta amigo,
leal e solidário: dentre todos os remédios políticos possíveis que está Casa
pode aplicar num momento de enorme angústia do povo e de seus representantes, o
de menor dano seria fazer um freio de arrumação até que todas as medidas
necessárias e todas as posturas inadiáveis fossem imediatamente adotadas, até
que qualquer outra pauta pudesse ser novamente colocada em tramitação. Falo de
adotarmos uma espécie de “Esforço Concentrado para a Pandemia”, durante duas
semanas, em que os demais temas da pauta legislativa sofreriam uma pausa para
dar lugar ao único que importa: como salvar vidas, como obter vacinas, quais os
obstáculos políticos, legais e regulatórios precisam ser retirados para que
nosso povo possa obter a maior quantidade de vacinas, no menor prazo de tempo
possível.
Não é hora de tensionamentos.
E CPIs ou lockdowns parlamentares - medidas com níveis decrescentes de danos
políticos - devem ser evitados. Mas isso não depende apenas desta Casa. Depende
também - e sobretudo - daqueles que fora daqui precisam ter a sensibilidade de
que o momento é grave, a solidariedade é grande, mas tudo tem limite, tudo! E o
limite do parlamento brasileiro, a Casa do Povo, é quando o mínimo de sensatez
em relação ao povo não está sendo obedecido.
Sou um otimista. Acredito que
a força do diálogo e do convencimento, a força da transformação através da
sinceridade de propósitos e da colaboração fiel, mesmo que algumas vezes
dissonante, é o caminho para a construção dos avanços.
Espero, do fundo do meu
coração, que estas palavras ecoem e que nosso esforço de conciliação prevaleça
sobre todos os outros perigos.
Muito obrigado a todos e Deus proteja o Povo Brasileiro.
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