De cada 10 pessoas que iniciam
o tratamento, pelo menos uma abandona os medicamentos. A
interrupção traz complicações que podem levar a óbito
A tuberculose é considerada
uma das 10 principais causas de morte no mundo. No Brasil são registradas por
ano cerca de 4,5 mil mortes pela doença. Apesar de ter cura, o abandono do
tratamento é o principal motivo para a tuberculose ainda continuar fazendo
vítimas fatais. O tratamento é gratuito, ofertado no Sistema Único de Saúde
(SUS) e dura, em média, seis meses. Apesar da melhora dos sintomas já nas
primeiras semanas após início, a cura só é garantida ao final do esquema
terapêutico.
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A interrupção do tratamento
antes da conclusão pode levar o paciente à resistência aos antibióticos ou
mesmo a complicações que podem levar a óbito. Além disso, pode aumentar o risco
de transmissão da doença para outras pessoas. A transmissão ocorre por via
respiratória através do espirro, tosse ou fala quando partículas expelidas no
ar, que contenham a bactéria causadora da doença (Mycobacterium tuberculosis ou
bacilo de Koch), são inaladas por outra pessoa.
No Brasil, de cada 10 pessoas
que iniciam o tratamento, pelo menos uma abandona o uso dos medicamentos. O
esquema básico consiste na administração de medicamentos em doses combinadas
fixas, ou seja, 4 em 1 (rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol)
durante dois meses, seguida de 2 medicamentos em 1 (rifampicina e isoniazida)
durante quatro meses.
Para favorecer a adesão, o
Ministério da Saúde recomenda que o tratamento seja acompanhado por
profissionais da unidade de saúde mais próxima do cidadão. É o chamado
Tratamento Diretamente Observado (TDO), que prevê a supervisão por um
profissional de saúde da tomada dos medicamentos, além de orientações claras
sobre as características da doença e os riscos da interrupção do tratamento
para a pessoa, familiares e comunidade.
“A melhora a partir do início
do tratamento não é sinônimo de cura. A cura só vem com o tempo de tratamento,
que precisa ser seguido até o final, e a confirmação por exame laboratorial”,
afirma a coordenadora do Departamento de Vigilância das Doenças de Transmissão
Respiratória de Condições Crônicas do Ministério da Saúde, Denise Arakaki.
Por isso, o tratamento diário
e contínuo é fundamental para a cura da doença, que teve 75 mil novos casos
registrados no ano passado no país. Para saber mais sobre os riscos do abandono
do tratamento confira abaixo o bate-papo com coordenadora do Departamento de
Vigilância das Doenças de Transmissão Respiratória de Condições Crônicas,
Denise Arakaki.
Entrevista:
Coordenadora do Departamento
de Vigilância das Doenças de Transmissão Respiratória de Condições
Crônicas, Denise Arakaki:
- O que leva as pessoas a
abandonarem o tratamento?
Denise Arakaki: Pela
forte determinação social, a maior prevalência da doença é em países em
desenvolvimento. O perfil clássico de quem tem tuberculose é de pessoas de
classe baixa que acumulam vulnerabilidades sociais, econômicas e biológicas,
moram às margens das grandes cidades urbanas, trabalham na informalidade ou
percorrem longas distâncias para chegarem ao trabalho. Quando essas pessoas
começam o tratamento para tuberculose ficam bem nas primeiras semanas. Voltam a
seu peso normal, o cansaço diminui e o apetite melhora. Por isso, acham que já
estão curadas e abandonando o tratamento.
Mas essa melhora a partir do
início do tratamento não é sinônimo de cura. A cura só vem com o tempo de
tratamento, que precisa ser seguido até o final, tendo a confirmação de cura
por exame laboratorial e avaliação clínica.
- Quais as consequências da
interrupção do tratamento?
Denise Arakaki: Quando
a pessoa interrompe o tratamento da tuberculose no meio do processo terapêutico
a doença retorna e tem possibilidade de voltar com bacilos resistentes aos
medicamentos. Além disso, condições sociais como, ser morador de rua ou estar
em privação de liberdade, ou mesmo ser portador de doenças imunodeprimidas,
como HIV/Aids, podem agravar o quadro de tuberculose e levar a óbito.
- O Brasil ainda possui
percentuais elevados de abandono se comparado a outros países?
Denise Arakaki: Os
percentuais no Brasil ainda estão acima da meta preconizada pela Organização
Mundial da Saúde (OMS), que é de 5%. O percentual de pessoas que abandonam o
tratamento no país chega a 10%, o que representa cerca de sete mil pessoas.
- Como é feito o tratamento da
tuberculose? É diário ou intermitente?
Denise Arakaki: Quando
realizado o tratamento adequado e de forma correta, a tuberculose tem cura de
praticamente 100% dos casos que são causados por bacilos sensíveis. O
tratamento é oferecido exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde e deve ser
feito diariamente, sem interrupção, com duração de pelo menos 6 meses para
bacilos sensíveis e de 18 meses para os resistentes. Utilizamos quatro fármacos
no tratamento dos casos de tuberculose no esquema básico (sensível):
rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol.
- Mesmo após início do
tratamento, as pessoas que têm tuberculose precisam ficar isoladas do contato
com outras pessoas?
Denise Arakaki: Após
o início do tratamento, em geral após 15 dias, a chance de transmissão é muito
reduzida. A pessoa com tuberculose não deve ficar isolada, pelo contrário,
precisa do apoio de familiares e amigos para seguir com o tratamento. A doença
não é transmitida por objetos ou utensílios compartilhados, como pratos ou
colheres, ou mesmo roupas ou lençóis. Isso porque, somente os bacilos dispersos
no ar em aerossóis podem transmitir a doença. A transmissão ocorre por via
respiratória através do espirro, tosse ou fala.
Por isso é muito importante
adotar algumas medidas até que haja a negativação da bactéria no organismo,
como cobrir a boca com o braço ou lenço ao tossir, manter o ambiente com
bastante luz solar e bem ventilado, porque a circulação de ar possibilita a
dispersão das partículas infectantes.
- Como é possível prevenir a
tuberculose?
Denise Arakaki: A
vacina BGC, ofertada gratuitamente no SUS ao nascer ou, no máximo, até os
quatro anos incompletos de idade é uma maneira de prevenir a tuberculose em
crianças. Porém, essa vacina protege somente contra as formas mais graves da
doença, como tuberculose miliar e a meníngea.
Outra maneira de prevenção da
doença é identificar, diagnosticar e tratar as pessoas que estão infectadas
pelo bacilo, mas que ainda não desenvolveram a doença, chamada de infecção latente
da tuberculose (ILTB). O tratamento desses casos diminui o risco de
desenvolvimento da tuberculose ativa e, consequentemente, a transmissibilidade
da doença.
Os sintomas da tuberculose
mais comuns são tosse persistente por três semanas ou mais, febre nos períodos
da tarde, suor noturno e emagrecimento sem causa aparente. Se você conhece
alguém ou mesmo possui esses sintomas, é muito importante procurar a unidade de
saúde mais próxima para avaliação e diagnóstico. Assim, você se protege,
protege quem você ama e nos ajuda a eliminar a doença de circulação.
Atendimento à Imprensa
(61) 3315-3580 / 3853
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