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segunda-feira, 14 de março de 2022

Artigo sobre soro anti-Covid do Butantan é publicado em revista do grupo Nature; saiba os diferenciais do tratamento


Soro foi produzido a partir de plasma hiperimune e usando vírus inativado; estudo mostra como ele foi desenvolvido

Na quinta (10/3), foi publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature, o artigo que descreve como foi o desenvolvimento do soro anti-SARS-CoV-2 do Instituto Butantan e os testes que comprovaram a sua eficácia, decisivos para a autorização de início dos ensaios clínicos concedida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em outubro de 2021. Os ensaios clínicos do medicamento estão sendo realizados em pacientes do Hospital do Rim e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).

O soro foi produzido no âmbito de um projeto multidisciplinar do Butantan e contou com a sua experiência de 120 anos nessa área. Segundo a diretora de Inovação do Butantan, Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, todas as etapas do desenvolvimento, bem como os testes e a aprovação do produto para ensaios clínicos, ocorreram em tempo recorde. “Isso mostra que o Instituto tem a infraestrutura e a expertise necessárias para uma resposta rápida, mesmo durante uma pandemia”, aponta.

O primeiro passo para a criação do soro foi a coleta e o cultivo do vírus em laboratório, feitos pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP, com o apoio de pesquisadores do Centro de Desenvolvimento e Inovação e do Centro Bioindustrial do Butantan, quando o primeiro caso de Covid-19 foi detectado no Brasil. Em seguida, o vírus foi inativado por meio de radiação, em colaboração com o IPEN.

Após os resultados promissores do antígeno em testes de laboratório, dez cavalos foram selecionados para auxiliar a pesquisa. Esses animais são escolhidos para a produção de soros por terem grande capacidade de produzir anticorpos e terem grandes volumes de sangue. Os cavalos imunizados com SARS-CoV-2 inativado produziram altos títulos de anticorpos em seu sangue, que serviu de matéria-prima para a preparação de um concentrado de anticorpos purificado.

Este produto foi submetido a estudos de segurança pré-clínicos em modelos animais, que não mostraram nenhum efeito tóxico. Em seguida, testes de desafio em animais comprovaram que o tratamento é eficaz contra a Covid-19, induzindo a diminuição da carga viral nos pulmões dos animais tratados com o soro e diminuindo também o processo inflamatório nestes órgãos, reduzindo a gravidade da doença.

Para Viviane Botosso, diretora do Laboratório de Virologia do Butantan, o vasto estudo demonstra a força da instituição e é um grande exemplo do desenvolvimento de um produto – da pesquisa em bancada até a produção e a realização dos ensaios clínicos. “Foi esse trabalho conjunto de pesquisadores de várias áreas de atuação, dentro e fora do Instituto, que possibilitou a obtenção deste imunobiológico e a publicação desse artigo”, ressalta.

Ana Marisa acrescenta que foi um desafio encontrar uma revista científica com perfil para publicar o escopo deste estudo, devido ao seu formato e à sua complexidade. “Neste artigo descrevemos desde a etapa de caracterização do antígeno, as etapas que envolvem o desenvolvimento de um novo produto, inclusive testes pré-clínicos e de desafio em animais, e as etapas da produção propriamente dita, até se chegar ao produto final. Isso tudo obviamente envolveu uma equipe multidisciplinar grande. Cada autor teve um papel fundamental no processo, e como pode ser visto no artigo, a lista de colaboradores é grande”, diz.

Soro produzido com vírus inteiro pode induzir maior resposta imune

Outros estudos conduzidos na Argentina e na Costa Rica já mostraram o potencial de soros hiperimunes contra a Covid-19. O diferencial do soro do Butantan, porém, é utilizar o vírus inteiro inativado, enquanto as demais pesquisas usaram somente a proteína Spike ou fragmentos da proteína. “O vírus inteiro pode, teoricamente, produzir anticorpos adicionais contra outras proteínas virais e, consequentemente, bloquear o processo de replicação viral e conter a infecção, além de estimular a resposta celular”, explica Viviane. A resposta imune celular é mediada pelos linfócitos T, que também combatem o vírus, enquanto os anticorpos fazem parte da resposta humoral.

Vantagens do soro em relação ao plasma convalescente

O uso de plasma convalescente, obtido do sangue de pacientes recuperados da Covid-19, foi uma das terapias mais estudadas contra a Covid-19 durante a pandemia, já que a estratégia já obteve sucesso contra outras doenças infecciosas, como gripe, sarampo e caxumba. No entanto, embora seja promissora, ela apresenta limitações. “A capacidade de obter plasma depende da doação voluntária de pacientes convalescentes. Além disso, existe uma heterogeneidade na potência dos anticorpos gerados entre os indivíduos, já que cada um responde de uma maneira ao vírus, o que poderia levar a um tratamento menos eficaz”, apontam os autores do artigo.

Nesse sentido, o uso de anticorpos obtidos do plasma de cavalos imunizados contra o SARS-CoV-2 é mais vantajoso. Os animais recebem reforços periódicos de imunização e produzem quantidades elevadas de plasma, e os pesquisadores têm maior controle na obtenção de preparações finais homogêneas. “O produto final consiste em anticorpos altamente purificados, não em plasma bruto, proporcionando maior segurança e eficácia”, afirmam.

https://butantan.gov.br/noticias/

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