Agência FAPESP* –Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo
(ICB-USP) trabalham no desenvolvimento de uma vacina terapêutica que se
mostrou, em camundongos, capaz de eliminar tumores associados ao papilomavírus
humano (HPV), principal agente causador do câncer do colo do útero.
O estudo, divulgado no
International Journal of Biological Sciences, mostrou que, quando associado à
quimioterapia baseada em cisplatina, o imunizante induziu uma resposta capaz de
eliminar tumores em estágio avançado de desenvolvimento, sem causar danos ao
fígado, aos rins ou induzir perda de peso nos animais, ou seja, sem toxicidade.
Os pesquisadores fazem agora a prova de conceito clínica em humanos.
A investigação é conduzida em
dois laboratórios do ICB-USP, coordenados pelos professores José Alexandre
Marzagão Barbuto e Luís Carlos de Souza Ferreira. Conta com a participação de
pesquisadores da ImunoTera Soluções Terapêuticas e apoio da Divisão de
Ginecologia do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP. O
grupo recebeu financiamento da FAPESP por meio de sete projetos (20/13640-1,
18/08502-9, 15/16505-0, 11/20917-0, 17/21358-1, 11/13805-1 e 13/15360-2).
Prova de conceito
O trabalho foi desenvolvido ao
longo dos últimos anos em um modelo experimental de roedores. Atualmente, uma
prova de conceito clínica está sendo conduzida no HC, com pacientes
diagnosticadas com neoplasia intraepitelial cervical (NIC) de alto grau, um
estágio anterior ao câncer do colo do útero.
“Conseguimos fazer a prova de
conceito em camundongos e agora estamos validando os resultados em humanos,
acompanhando um grupo pequeno de pacientes por um período de seis meses a um
ano. A publicação dos novos resultados deverá ser feita em meados de 2023 e,
então, partiremos para testes clínicos mais abrangentes, visando avaliar a
segurança e a eficácia do imunizante. Os resultados iniciais são muito
animadores”, conta Bruna Porchia, pós-doutoranda no ICB-USP e primeira autora
do artigo.
A aplicação do imunizante em
humanos é feita de forma indireta. Uma amostra de sangue é retirada da paciente
e, em laboratório, as células dendríticas (que fazem parte do sistema imune)
são isoladas e ativadas in vitro com o imunizante. Ao retornar à paciente
por meio de uma injeção, as células dendríticas "ensinam" o
sistema imune a reconhecer e eliminar as células tumorais ou neoplásicas
(precursoras dos tumores) presentes no colo uterino.
Devido ao longo caminho
regulatório que deve ser percorrido até o imunizante ser aplicado em larga
escala nos pacientes, o método indireto possibilitou a realização da prova de
conceito clínica e a validação dos resultados alcançados nas duas últimas décadas
de pesquisa.
Tecnologia pioneira
O imunizante é feito com base
em uma proteína recombinante que possibilita a ativação do sistema imune.
“Trata-se de uma vacina capaz de induzir uma resposta altamente específica a um
alvo terapêutico e que, ao contrário de métodos como a quimioterapia e a
radioterapia, não afeta células saudáveis do organismo. Com isso, é possível
eliminar as neoplasias do colo uterino com baixa toxicidade”, afirma a
pesquisadora.
Os testes já realizados
sugerem que a tecnologia pode ser aplicada para combater outras doenças
crônicas ou infecciosas. “As possibilidades são muitas. Podemos desenvolver,
por exemplo, vacinas para câncer de mama, câncer de próstata, tuberculose,
hepatite, COVID-19, zika e HIV”, destaca a pesquisadora.
Aplicado em duas doses, o
imunizante poderá tratar tumores em estágios iniciais, pois é nesse
momento que se consegue melhor resposta do organismo.
“Quando um câncer evolui,
criam-se mecanismos de evasão que muitas vezes superam a capacidade do sistema
imune de eliminá-lo. Nesse caso, a associação da vacina com outras terapias
pode trazer bons resultados”, completa.
O artigo Active immunization
combined with cisplatin confers enhanced therapeutic protection and prevents
relapses of HPV-induced tumors at different anatomical sites pode ser lido em: www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8692155/.
* Com informações da Assessoria de Comunicação do ICB-USP.
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