Objetivo é evitar evasão
escolar e casamentos precoces. No Brasil, estima-se que 66 mil meninas entre 10
e 14 anos estejam em situação de casamento, muitas com filhos
O Fundo de População das
Nações Unidas aponta que há cerca de 60 milhões de meninas com 10 anos, a maior
parte em regiões menos desenvolvidas do mundo. Os dados são do relatório
"Situação da População Mundial 2016", apresentado em audiência
pública da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara.
A representante do fundo,
Fernanda Lopes, destacou que as escolhas que são feitas para essas meninas
podem obrigá-las a largar a escola, casar muito cedo e a trabalhar antes da
idade madura. Ela explicou que a idade de 10 anos foi escolhida porque seria a
partir dessa faixa que a qualidade dos apoios recebidos pelas meninas teria
grande impacto para o futuro da população.
"Essas meninas que em
2015 tinham 10 anos; em 2030, terão 25. Se nós fizermos os investimentos
corretos, elas estarão prontas para educar uma nova geração com outros
elementos, com outros valores, que terão sido construídos e consolidados se
elas tiverem mais oportunidades de serem mantidas na educação formal",
defendeu.
Fernanda disse ainda que 20%
dos jovens não estudam, nem trabalham, e a maior parte desse contingente é de mulheres.
“No trabalho doméstico, elas vão dedicar 30 horas semanais em média. E, mais
tarde, enfrentarão uma diferença de rendimentos com os homens de 34%”, alertou.
A especialista ressaltou ainda que no Brasil, 66 mil meninas entre 10 e 14 anos
estão em situação de casamento, muitas com filhos.
Para a deputada Janete
Capiberibe (PSB-AP), o governo brasileiro não vem contribuindo para a melhora
da situação das meninas:
"O governo Temer reduziu
35% os recursos para as políticas de direitos humanos, 54% os recursos para as
políticas de autonomia das mulheres e 61% nas políticas para atendimento de
mulheres violentadas”, lamentou.
A deputada criticou ainda o projeto de lei em discussão na Câmara da Escola sem Partido (PL 7180/14). “O que os fundamentalistas apelidaram de 'ideologia de gênero' promove a opressão das meninas, mulheres, e de todos aqueles que não se enquadram no padrão da sociedade hetero-normativa", afirmou.
Representante da ONU Mulheres
Brasil, Ana Lúcia Monteiro mostrou os diversos programas da entidade para
empoderamento das mulheres. Ela ressaltou que, na adolescência, as meninas
precisam ser apoiadas para não se recolherem de alguma forma. “Cerca de 49%
abandonam os esportes nessa faixa etária”, exemplificou.
Julieta Jacob, do Centro de
Orientação em Educação e Saúde, divulgou o livro "Princesa de Capa. Herói de
Avental", método utilizado para discutir as mensagens que os contos de
fada transmitem para meninas e meninos. O trabalho está disponível na internet
em www.escoladeser.org.br.
Reportagem - Sílvia Mugnatto,
Edição - Geórgia Moraes, Luis Macedo / Câmara dos Deputados
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