As
autoridades sanitárias perderam um grande aliado na prevenção das doenças
sexualmente transmissíveis (DSTs): o medo. Por não causarem pânico, a população
mais jovem banalizou esses males e abriu mão de se proteger. O preservativo,
item de primeira necessidade outrora, caiu em desuso. Os efeitos começam a
aparecer. Em cinco anos, a Secretaria de Saúde registrou 29 mil novos casos de
alguma DST. O alerta é para o perfil dos infectados: jovens entre 20 e 29 anos.
A
perpetuação e o aumento dessas doenças preocupa especialistas. Entre 2010 e
2015 -- levantamento mais recente da Secretaria de Saúde --, 3.010 novas
infecções de Aids foram notificadas, 4.290 de sífilis, 6.550 de condiloma
(verruga genital) e 3.063, de úlcera genital (leia Raio-X). Esses males estão
cada vez mais inseridos na capital federal. Não há distinção de classe social,
escolaridade ou raça, como evidenciam as estatísticas.
Apesar
de o registro de casos ser confiável, há um hiato que deve ser levado em
consideração. Uma parcela de doentes sequer sabe que tem uma DST. "Esse
aspecto faz com que a contaminação seja em progressão geométrica, ou seja, a
pessoa infectada que não sabe de seu diagnóstico transmite o vírus ou a
bactéria para outras, que também ficam no ostracismo", conclui o
coordenador do Polo de Prevenção das DSTs da Universidade de Brasília (UnB),
Mário Ângelo Silva.
Ele
chama a atenção para outro aspecto: o da confiança. "No começo dos
relacionamentos, o uso do preservativo é natural. Mas, quando a relação está
estabilizada há mais tempo, isso se perde. Com os jovens, é ainda mais
arriscado por eles estarem numa fase de descobertas, nas quais a vida sexual é
mais ativa. Transam mais e com um número maior de pessoas", destaca o
especialista.
Prudência
O
comportamento da sociedade mudou, com isso, a linguagem das políticas públicas
ficou defasada. É o que pensa o sociólogo Roberto Geraldo da Silva, presidente
da Associação Esperança e Vida, organização que trata e abriga pacientes com
Aids. "A questão envolve aspectos amorosos, sociais, religiosos e
culturais. O uso do preservativo está baixo por isso. Hoje em dia, não adianta
dizer: 'Use camisinha’. E acreditar que todo mundo vai aderir", lamenta.
Roberto
explica que a saída é a informação. "É preciso trabalhar a educação sexual
nas escolas com mais efetividade. Temos de falar da valorização da vida, dos
resultados da camisinha, das doenças e mostrar o dano que elas causam. O uso de
preservativo deve ser encarado como o do cinto de segurança e o consumo de água
potável", alerta.
Valéria
Paes, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que a
população mais jovem não vivenciou terrores do passado, como mortes por
complicações da Aids, e, por isso, tem menos prudência. "Isso enfraquece o
apelo pelo uso do preservativo. Os jovens estão se arriscando mais. Por isso, é
necessária a modernização na abordagem", avalia. Ela emenda:
"Precisamos disseminar as informações. As pessoas não falam de DSTs como
de outras doenças"
Correio
Braziliense | Cidade | BR, OTÁVIO AUGUSTO
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