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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

O risco das doenças sexuais

As autoridades sanitárias perderam um grande aliado na prevenção das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs): o medo. Por não causarem pânico, a população mais jovem banalizou esses males e abriu mão de se proteger. O preservativo, item de primeira necessidade outrora, caiu em desuso. Os efeitos começam a aparecer. Em cinco anos, a Secretaria de Saúde registrou 29 mil novos casos de alguma DST. O alerta é para o perfil dos infectados: jovens entre 20 e 29 anos.

A perpetuação e o aumento dessas doenças preocupa especialistas. Entre 2010 e 2015 -- levantamento mais recente da Secretaria de Saúde --, 3.010 novas infecções de Aids foram notificadas, 4.290 de sífilis, 6.550 de condiloma (verruga genital) e 3.063, de úlcera genital (leia Raio-X). Esses males estão cada vez mais inseridos na capital federal. Não há distinção de classe social, escolaridade ou raça, como evidenciam as estatísticas.

Apesar de o registro de casos ser confiável, há um hiato que deve ser levado em consideração. Uma parcela de doentes sequer sabe que tem uma DST. "Esse aspecto faz com que a contaminação seja em progressão geométrica, ou seja, a pessoa infectada que não sabe de seu diagnóstico transmite o vírus ou a bactéria para outras, que também ficam no ostracismo", conclui o coordenador do Polo de Prevenção das DSTs da Universidade de Brasília (UnB), Mário Ângelo Silva.

Ele chama a atenção para outro aspecto: o da confiança. "No começo dos relacionamentos, o uso do preservativo é natural. Mas, quando a relação está estabilizada há mais tempo, isso se perde. Com os jovens, é ainda mais arriscado por eles estarem numa fase de descobertas, nas quais a vida sexual é mais ativa. Transam mais e com um número maior de pessoas", destaca o especialista.

Prudência
O comportamento da sociedade mudou, com isso, a linguagem das políticas públicas ficou defasada. É o que pensa o sociólogo Roberto Geraldo da Silva, presidente da Associação Esperança e Vida, organização que trata e abriga pacientes com Aids. "A questão envolve aspectos amorosos, sociais, religiosos e culturais. O uso do preservativo está baixo por isso. Hoje em dia, não adianta dizer: 'Use camisinha’. E acreditar que todo mundo vai aderir", lamenta.

Roberto explica que a saída é a informação. "É preciso trabalhar a educação sexual nas escolas com mais efetividade. Temos de falar da valorização da vida, dos resultados da camisinha, das doenças e mostrar o dano que elas causam. O uso de preservativo deve ser encarado como o do cinto de segurança e o consumo de água potável", alerta.

Valéria Paes, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que a população mais jovem não vivenciou terrores do passado, como mortes por complicações da Aids, e, por isso, tem menos prudência. "Isso enfraquece o apelo pelo uso do preservativo. Os jovens estão se arriscando mais. Por isso, é necessária a modernização na abordagem", avalia. Ela emenda: "Precisamos disseminar as informações. As pessoas não falam de DSTs como de outras doenças"

Correio Braziliense | Cidade | BR, OTÁVIO AUGUSTO


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