Bruno C. Dias
Fotografia microscópica de uma
cepa de vírus (azul) em contato com uma célula já infectada – Foto: NIH
Causadora de uma pneumonia de
largo lastro desde o fim do ano na cidade de Wuhan, megalópole da região
central da China, em pouquíssimo tempo uma nova cepa até então desconhecida de
coronavírus já foi notificada em mais de 12 países, com uma estimativa de cerca
de 6 mil casos confirmados e 132 mortes, segundo painel de monitoramento global gerado pelo centro de
sistemas e engenharias em saúde da John Hopkins University. Esse mapeamento, no
entanto, ainda não incluiu o Brasil, que já tem três casos suspeitos monitorados Ministério da Saúde (MS),
nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná.
Em coletiva de imprensa realizada na manhã de 28 de janeiro, o
Ministro Luiz Henrique Mandetta declarou que o país está preparado
para prestar assistência à população, desaconselhou viagens à China e reforçou
que a situação exige atenção, mas nenhum tipo de pânico. “Vamos aguardar o que
a ciência vai trazer. Não adianta nos antecipar, a realidade da China é uma,
mas temos que observar como esse vírus vai se comportar em outros países, em
outras culturas, porque isso ainda não está claro”, finalizou Mandetta.
O primeiro boletim epidemiológico do Ministério indica a
infecção humana pelo vírus agora identificado 2019-nCoV como
uma potencial emergência de Saúde Pública de importância internacional (nível
2, numa escala de 1 a 3). No cenário global, a Organização Mundial de Saúde (OMS) elevou os níveis de risco em
boletim divulgado inicialmente na quinta-feira, 23, e atualizado na segunda,
27.
Juntamente com a expansão do
2019-nCoV, ganham terreno o temor de uma pandemia global, as crises políticas e as fake news, num
cenário que tende a repetir cada vez com maior frequência.
Atenção redobrada não pode
encobrir demais problemas: Em conversa com a Comunicação da
Abrasco, Rivaldo Venâncio Cunha, coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência
da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Segundo pesquisador, para o
país e a sociedade brasileira estarem preparados, é necessária uma rede
assistencial robusta e organizada, com profissionais de saúde informados e
conscientes de seu papel.
“Há uma grande probabilidade
desse coronavírus circular com maior facilidade nos próximos meses, que pode
provocar quadros graves. No entanto, todos os anos vivenciamos no Brasil um
aumento no número de infecções respiratórias, principalmente no inverno. Já
temos um certo conhecimento construído nas últimas décadas para essas infecções
pulmonares, sabemos quais são os grupos mais vulneráveis que têm uma facilidade
de desenvolver sintomas mais graves, como pessoas idosas com quadros crônicos
de enfisema e asma, pessoas obesas, crianças, gestantes e portadores e
portadoras de doenças crônicas ou com imunodeficiência” diz Rivaldo.
O pesquisador frisa que as
autoridades e a sociedade não podem esquecer dos demais problemas e desafios da
saúde presentes no cotidiano brasileiro e que seguem negligenciados. “Chegamos
a um quadro de 150 mil mortes violentas por ano. Esse é um problema gravíssimo
que já temos, não precisa chegar. Não podemos esquecer o que está em nosso
meio, há décadas e séculos. Pensar nos novos problemas não pode ser motivo para
esquecermos os antigos”.
Seja um problema novo ou
antigo, os profissionais de saúde têm um papel central para uma melhor
resposta do Sistema Único de Saúde (SUS), seja no trabalho direto nos serviços,
seja na gestão. “Os trabalhadores da saúde são peças fundamentais no sentido de
debater com os gestores para contribuir para a estruturação de planos de
enfrentamento para a realidade que se avizinha. Se não precisar pôr em prática,
melhor para todo mundo, mas temos de estar preparados para o cenário que vier.
A fragilidade na rede assistencial, tanto primária quanto especializada, traz
um agravante adicional que devemos evitar.”
Rivaldo ressalta também que é
importante estancar a disseminação de boatos e notícias falsas. “Muitas vezes
passamos para frente algo que não merece credibilidade, só pela vontade de
criticar. Precisamos pular esse mecanismo primário, pois é uma forma ingênua de
denúncia, sem resultado prático. Se identificamos que é uma fake news,
a corrente tem de terminar em nós” completa ele, indicando que a melhor
estratégia é a disseminação de informação correta.
Onde encontrar informação
correta:
- Página
de informações e orientações sobre o 2019-nCoV , do Ministério da Saúde
- Boletim Epidemiológico Nº 1 – Publicado pelo Ministério da
Saúde em 28/01/2020
- Página de informações e orientações sobre o 2019-nCoV, da
Organização Mundial da Saúde (OMS) – em inglês
- Edição
especial do periódico The Lancet sobre o 2019-nCoV – em
inglês
- Página do Centers for Disease Control and Prevention sobre
o 2019-nCoV – em inglês
- Página
do British Medical Journal – BMJ – sobre o 2019-nCoV – em inglês
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