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domingo, 2 de junho de 2019

Derrota judicial da Gilead fará Portugal economizar 85% com genérico do Truvada – De olho nas patentes – GTPI


Os hospitais portugueses já podem utilizar o primeiro genérico do Truvada. Depois de passar por todo o primeiro trimestre de 2019 impedido de comprar o medicamento devido a uma “providência cautelar” interposta pela farmacêutica Gilead, dos Estados Unidos, o Sistema Nacional de Saúde (SNS) de Portugal saiu-se vitorioso no Tribunal de Justiça Europeu e vai economizar cerca de 85% com a compre de genéricos.

O Truvada, composto pelas substâncias emtricitabina e tenofovir, está disponível no sistema de saúde público português desde 2017. É o fármaco mais utilizado no tratamento do HIV/Aids e que vai custar com as versões genéricas dos laboratórios Mylan e Teva, menos de € 70 (R$ 307,4) mensais por cada paciente, em vez de € 700 (R$ 3.070,4) cobrados pela Gilead, o valor representa uma diminuição de 85% dos custos com o antirretroviral para o Sistema Nacional de Saúde (SNS), que no ano passado gastou € 199 milhões (R$ 522,6 milhões) com HIV/Aids.

O medicamento é utilizado no tratamento das pessoas vivendo com HIV/Aids ou como terapia de prevenção, a chamada Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), por pessoas com elevado risco de contraírem o vírus. É o único medicamento usado entre casais nos quais um dos elementos é soropositivo.

“São medicamentos com a mesma eficácia (genéricos), com a mesma segurança, mas que nos permitem conter os custos. Embora a medicação seja gratuita para o indivíduo é paga por todos nós. Assim, acabamos por estar a poupar recursos que são importantes para investir noutras áreas. Tratar as pessoas com a mesma qualidade a um preço mais baixo é sempre de se ter em conta”, afirmou a presidente do Programa Nacional para a Infeção HIV/Aids, Isabel Aldir.

Genérico vai poupar milhões ao SNS
No ano passado, os medicamentos para o HIV/Aids representaram 19,34% dos encargos totais do Estado com fármacos, segundo os dados disponíveis no site da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed). Um pouco menos do que os 21,8% em 2017, com total de gastos em € 214 milhões (R$ 939,9 milhões).

“O Truvada é o medicamento mais vendido na nossa área, uma das despesas mais pesadas. A entrada em vigor do genérico permite-nos a substituição nos casos em que isto é possível com uma baixa de preço que ultrapassa os 70% em relação ao preço original. Nos casos em que não é possível, por exemplo, em pessoas com insuficiência renal, os preços estão mais competitivos porque a concorrência obrigou o medicamento da Gilead a baixar o preço”, explicou o presidente do Grupo Português de Ativistas sobre Tratamentos de HIV/Aids, Luís Mendão.

O ativista lembra que em Portugal há entre 32 mil e 35 mil pessoas em tratamento que cobre entre 60% e 70% das pessoas com HIV/Aids, sendo de longe o mais usado na prescrição tanto em Portugal quanto na União Europeia.

“Há novidades que permitem criar regimes seguros sem emtricitabina, mas ainda estamos no início”, acrescenta Luís Mendão.

Prejuízo
O Hospital Garcia de Orta, em Almada, foi um dos primeiros em Portugal a recorrer ao genérico Truvada. O responsável pelos serviços farmacêuticos da unidade, Armando Alcobia, encomendou pela primeira vez o medicamento assim que passou a estar disponível comercialmente, em outubro de 2017, por € 4,40 (R$ 19,32) o comprimido, em vez dos habituais € 12,91 (R$ 56,70)

. No ano passado, precisou interromper a compra com a entrada da Gilead na Justiça reivindicando a patente da substância.

“Ficamos sete meses sem conseguir adquirir o genérico. O que correspondeu a encargos adicionais de cerca de € 840 mil (R$ 3,68 milhões) no Garcia de Orta, cerca de € 30 milhões (R$ 131,7 milhões) para o mercado português”, revela Alcobia. Entretanto, depois do o aval do Tribunal da Relação de Lisboa, o genérico retornou a € 0,76 (R$ 3,33) centavos o comprimido.

Tribunal Europeu dá luz verde ao genérico
“Em 2016, pedimos à Gilead que deixasse de contestar a aprovação dos genéricos do Truvada em 2017. A Gilead não o fez. Na Inglaterra, na França, na Alemanha e noutros sítios começaram processos de contestação, o que contribuiu para que a Gilead em 2018 tivesse decidido deixar de contestar o acesso aos genéricos em todo o lado, menos nos Estados Unidos, onde o sistema de patentes é diferente”, diz Luís Mendão.

Em julho do ano passado, o Tribunal de Justiça Europeu declarou a possibilidade da fabricação dos genéricos para o HIV/Aids reconhecendo que não existia violação da patente da farmacêutica norte-americana. Segundo o juíz, a patente original incluía apenas o medicamento e não as substâncias que o compunham (emtricitabina e tenofovir).

“Em Portugal, tivemos tempo demais a usar Truvada sem o genérico disponível”, conclui Luís Mendão. No Brasil, no México, na Índia, em Inglaterra, em França e na Alemanha o genérico já circulava nos hospitais há dois anos. O Truvada é um dos medicamentos mais lucrativos do mundo e rende à gigante farmacêutica Gilead cerca de € 86 bilhões (R$ 377,7 bilhões) por ano.

Portugal é dos países mais bem-sucedidos na luta contra o HIV/aids
Em 2017, havia em Portugal 57.913 pessoas infetadas com HIV, sobretudo jovens do sexo masculino, tendo sido notificados 1068 novos casos.

Apesar disto, Portugal está entre o restrito grupo de países europeus onde o diagnóstico e o tratamento que impedem a transmissão atingem melhores resultados, segundo a Organização Mundial da Saúde. O país alcançou recentemente as três metas da Organização das Nações Unidas para o ano 2020 para o HIV/Aids: 90% dos doentes diagnosticados, 90% em tratamento e 90% com carga viral indetetável.

Com informações de Diário de Notícias
Com imagem de Diário de Notícias 


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