A técnica, considerada
revolucionária, trouxe ótimos resultados contra leucemia — e já recebeu o aval
de especialistas americanos
Essa nova forma de combater o
câncer promete mudar a oncologia
Não é um novo remédio contra
o câncer. Também não é uma cirurgia, nem um aparelho de última
geração. Na verdade, a terapia batizada de CAR-T Cells é um pouco de tudo isso
— e promete chacoalhar a Oncologia.
Esta semana, um comitê
do Food and Drug Administration (FDA), o órgão que regula os remédios nos
Estados Unidos, votou por unanimidade a favor da aprovação dessa técnica contra
um tipo de leucemia — a aguda linfoblástica. “A recomendação nos deixa mais
próximos de oferecer a primeira terapia à base de CAR-T Cells para os
pacientes”, nota Bruno Strigini, CEO da Novartis Oncology, em um comunicado.
Mas do que estamos falando no
fim das contas? Em resumo, as CAR-T Cells são células de defesa extraídas do
seu próprio corpo e moldadas em laboratório para se tornarem mais agressivas
contra a enfermidade. Sim, o remédio sai de você mesmo!
Veja: entre outras coisas, um
câncer qualquer consegue se desenvolver porque nossas células imunológicas
normais não o reconhecem como inimigo. Daí a sacada de cientistas da
Universidade da Pensilvânia (EUA): que tal acrescentar um receptor específico
para uma molécula presente no tumor nessas tropas de defesa? A partir dessa
reengenharia, os soldados do nosso exército passariam a se ligar ao oponente e
o atacar.
Após superar os desafios
tecnológicos da proposta, começaram as pesquisas. Os especialistas tiravam
linfócitos T (um tipo de célula de defesa) de voluntários com câncer,
tratavam-nos em laboratório, reinfundiam-nos… e esperavam. A grata surpresa:
esse tratamento altamente personalizado chegou a alcançar 90% de resposta entre
os pacientes.
Atualmente, as CAR-T Cells
foram mais estudadas contra leucemias, o que justifica aquela recomendação
americana para aprová-las. Aliás, vale lembrar que a leucemia aguda
linfoblástica representa 25% de todos os cânceres em crianças e jovens com
menos de 15 anos — a nova terapia seria utilizada em um primeiro momento
nos casos em que outras estratégias falharam. “Ao tratar crianças com esse tipo
de leucemia refratária, sabemos que elas precisam urgentemente de abordagens
diferentes. O painel da FDA deu um passo positivo nesse sentido”, contextualiza
o médico Stephan Grupp, da Universidade da Pensilvânia, em comunicado.
Potencial inexplorado
As CAR-T Cells que devem ser
aprovadas ainda este ano têm a patente da Novartis. Elas recebem um receptor
específico, batizado de CTL019, bastante útil para marcar células de sangue
acometidas pela leucemia.
Mas… nada impede que outros
receptores, voltados para outros tumores, sejam inseridos nas nossas unidades
de defesa. Ou que se crie um banco de células modificadas em laboratório que
dispense a necessidade de tirar as suas durante o tratamento. Na realidade,
algumas farmacêuticas já estão correndo atrás disso — em breve, deveremos ter
novidades.
Em tese, portanto, as CAR-T
Cells podem marcar o início de uma nova era de tratamento personalizado contra
diversos tumores. Mas os obstáculos para isso não são pequenos.
Por Theo Ruprecht, chat_bubble_outlinemore_horiz
(Foto: Science Photo Library/Science Photo Library)
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