Mulheres soropositivas seguram
laços que são símbolo da luta contra a Aids no centro de Bangalore, uma cidade
da Índia - MANJUNATH KIRAN / AFP
GENEBRA — Apesar de as Nações
Unidas (ONU) terem anunciado, nesta quinta-feira, que o número de mortes por Aids caíram quase pela metade em uma
década, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, também nesta quinta,
um relatório no qual alerta para a crescente resistência a medicamentos contra
o HIV. O documento mostra que em seis dos 11 países pesquisados na África, Ásia
e América Latina, mais de 10% das pessoas que iniciaram a terapia
antirretroviral apresentaram uma cepa de HIV resistente a alguns dos remédios
mais amplamente utilizados.
Uma vez que o limite de 10%
foi atingido, a OMS recomenda que esses países revisem urgentemente seus
programas de tratamento contra HIV. A organização adverte que essa crescente
ameaça poderia prejudicar o progresso global no tratamento e na prevenção da
infecção, se não forem tomadas medidas precoces e efetivas.
— A resistência aos
medicamentos antimicrobianos é um desafio crescente para a saúde global e o
desenvolvimento sustentável — destacou Tedros Adhanom Ghebreyesus,
diretor-geral da OMS. — Precisamos abordar de forma proativa os níveis
crescentes de resistência aos medicamentos contra o HIV, se quisermos atingir o
objetivo global de acabar com a AIDS até 2030.
Esse tipo de resistência se
desenvolve quando as pessoas não aderem a um plano de tratamento prescrito,
muitas vezes porque não têm acesso consistente a cuidados de qualidade para o
HIV. Os indivíduos com resistência ao fármaco do HIV começarão a ter falhas na
terapia, além de poderem transmitir vírus resistentes para outras pessoas.
Índice de resistência a
medicamentos que tratam o HIV, em percentagem:
19,3 NICARÁGUA, 9,2 MÉXICO, 3,9 MIANMAR, 8,1 CAMARÕES, 13,2 GUATEMALA, 15,4 UGANDA, 6,8BRASIL, 10,9 ZIMBÁBUE, 13,8 NAMÍBIA, 10,9 ARGENTINA
Estes índices mostram a
prevalência de resistência apenas para as duas drogas recomendadas de primeira
linha do tratamento, efavirenz e nevirapina, do tipo conhecido como inibidores
da transcriptase reversa não-nucleosídicos (NNRTI, na sigla em inglês), que é a
fonte de preocupação da OMS. Se for levar em conta as taxas de resistência do
HIV a qualquer dos tipos de remédios, o número aumenta.
Fonte: Organização Mundial da
Saúde (OMS)
Uma vez resistente à droga
utilizada para combater o vírus, a pessoa verá o nível de HIV em seu organismo
subir, o que exigirá que ela mude de tratamento — algo que pode ser mais caro
e, em alguns países, difícil de obter.
— Precisamos garantir que as
pessoas que iniciam o tratamento possam permanecer em um tratamento eficaz,
para evitar o surgimento da resistência aos medicamentos contra o HIV —
aconselhou Gottfried Hirnschall, diretor do Departamento de HIV da OMS e do
Programa Global de Hepatite. — Quando os níveis de resistência aos medicamentos
contra o HIV se tornam elevados, recomendamos que os países mudem para uma
terapia alternativa de primeira linha para aqueles que estão iniciando o
tratamento.
Dos 36,7 milhões de pessoas
que vivem com o HIV em todo o mundo, 19,5 milhões iniciaram a terapia
antirretroviral em 2016. A maioria dessas pessoas passa bem, com o tratamento
demonstrando alta eficácia na supressão do vírus. No entanto, um número
crescente desses pacientes enfrenta as consequências da resistência aos
medicamentos.
O aumento da resistência aos
medicamentos contra o HIV pode levar a mais infecções e mortes. Uma estimativa
matemática feita pela OMS indica que 135 mil mortes adicionais e 105 mil novas
infecções podem acontecer nos próximos cinco anos se nenhuma ação for tomada, e
os custos de tratamento do HIV poderiam aumentar em US$ 650 milhões — o
equivalente a R$ 2 bilhões — durante esse período.
O relatório OMS sobre
resistência a medicamentos contra o HIV tem coautoria do Fundo Global de Combate
à Aids, Tuberculose e Malária e dos Centros para o Controle e Prevenção de
Doenças, nos Estados Unidos.
— Este novo relatório confirma
que devemos avançar nos nossos esforços para combater a resistência: ampliar o
teste de carga viral, melhorar a qualidade dos programas de tratamento e a
transição para novas drogas como o dolutegravir — afirma Shannon Hader, diretor
da Divisão de HIV e Tuberculose Global dos Centros de Controle e Prevenção de
Doenças dos EUA.
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