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sexta-feira, 21 de julho de 2017

OMS alerta para crescente resistência a medicamentos contra HIV

Mulheres soropositivas seguram laços que são símbolo da luta contra a Aids no centro de Bangalore, uma cidade da Índia - MANJUNATH KIRAN / AFP

GENEBRA — Apesar de as Nações Unidas (ONU) terem anunciado, nesta quinta-feira, que o número de mortes por Aids caíram quase pela metade em uma década, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, também nesta quinta, um relatório no qual alerta para a crescente resistência a medicamentos contra o HIV. O documento mostra que em seis dos 11 países pesquisados na África, Ásia e América Latina, mais de 10% das pessoas que iniciaram a terapia antirretroviral apresentaram uma cepa de HIV resistente a alguns dos remédios mais amplamente utilizados.

Uma vez que o limite de 10% foi atingido, a OMS recomenda que esses países revisem urgentemente seus programas de tratamento contra HIV. A organização adverte que essa crescente ameaça poderia prejudicar o progresso global no tratamento e na prevenção da infecção, se não forem tomadas medidas precoces e efetivas.

— A resistência aos medicamentos antimicrobianos é um desafio crescente para a saúde global e o desenvolvimento sustentável — destacou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. — Precisamos abordar de forma proativa os níveis crescentes de resistência aos medicamentos contra o HIV, se quisermos atingir o objetivo global de acabar com a AIDS até 2030.

Esse tipo de resistência se desenvolve quando as pessoas não aderem a um plano de tratamento prescrito, muitas vezes porque não têm acesso consistente a cuidados de qualidade para o HIV. Os indivíduos com resistência ao fármaco do HIV começarão a ter falhas na terapia, além de poderem transmitir vírus resistentes para outras pessoas.
Índice de resistência a medicamentos que tratam o HIV, em percentagem:

19,3 NICARÁGUA, 9,2 MÉXICO, 3,9 MIANMAR, 8,1 CAMARÕES, 13,2 GUATEMALA, 15,4 UGANDA, 6,8BRASIL, 10,9 ZIMBÁBUE, 13,8 NAMÍBIA, 10,9 ARGENTINA

Estes índices mostram a prevalência de resistência apenas para as duas drogas recomendadas de primeira linha do tratamento, efavirenz e nevirapina, do tipo conhecido como inibidores da transcriptase reversa não-nucleosídicos (NNRTI, na sigla em inglês), que é a fonte de preocupação da OMS. Se for levar em conta as taxas de resistência do HIV a qualquer dos tipos de remédios, o número aumenta.

Fonte: Organização Mundial da Saúde (OMS)
Uma vez resistente à droga utilizada para combater o vírus, a pessoa verá o nível de HIV em seu organismo subir, o que exigirá que ela mude de tratamento — algo que pode ser mais caro e, em alguns países, difícil de obter.

— Precisamos garantir que as pessoas que iniciam o tratamento possam permanecer em um tratamento eficaz, para evitar o surgimento da resistência aos medicamentos contra o HIV — aconselhou Gottfried Hirnschall, diretor do Departamento de HIV da OMS e do Programa Global de Hepatite. — Quando os níveis de resistência aos medicamentos contra o HIV se tornam elevados, recomendamos que os países mudem para uma terapia alternativa de primeira linha para aqueles que estão iniciando o tratamento.

Dos 36,7 milhões de pessoas que vivem com o HIV em todo o mundo, 19,5 milhões iniciaram a terapia antirretroviral em 2016. A maioria dessas pessoas passa bem, com o tratamento demonstrando alta eficácia na supressão do vírus. No entanto, um número crescente desses pacientes enfrenta as consequências da resistência aos medicamentos.
O aumento da resistência aos medicamentos contra o HIV pode levar a mais infecções e mortes. Uma estimativa matemática feita pela OMS indica que 135 mil mortes adicionais e 105 mil novas infecções podem acontecer nos próximos cinco anos se nenhuma ação for tomada, e os custos de tratamento do HIV poderiam aumentar em US$ 650 milhões — o equivalente a R$ 2 bilhões — durante esse período.

O relatório OMS sobre resistência a medicamentos contra o HIV tem coautoria do Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária e dos Centros para o Controle e Prevenção de Doenças, nos Estados Unidos.

— Este novo relatório confirma que devemos avançar nos nossos esforços para combater a resistência: ampliar o teste de carga viral, melhorar a qualidade dos programas de tratamento e a transição para novas drogas como o dolutegravir — afirma Shannon Hader, diretor da Divisão de HIV e Tuberculose Global dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.



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