O Porto é a cidade
escolhida como candidata portuguesa a acolher a Agência Europeia do
Medicamento (EMA, na sigla em inglês), depois de a sede deixar a casa londrina,
na sequência do "Brexit", como o PÚBLICO já tinha noticiado em
primeira mão. A decisão do Governo que confirma que vai ser, afinal, o Porto a
liderar esta candidatura acaba de ser avançada, nesta quinta-feira, após a
reunião do Conselho de Ministros.
Na conferência de imprensa,
a ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Manuela
Leitão Marques, e o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, explicaram
que se entendeu que o Porto era a cidade que apresentava melhores condições.
Mas a ministra disse mesmo mais. Disse que a política deste Governo também é a
de “criar outros polos” de desenvolvimento no país, fora de Lisboa, seguindo de
resto o que outros países europeus querem fazer, acrescentou.
Ressalvando que ambas as
cidades eram fortes candidatas, o ministro da Saúde salientou, no entanto,
vários aspectos que contribuíram para que a escolha recaísse no Porto: o tecido
empresarial, a “dinâmica” nas ciências da saúde, a existência de edifícios
preparados para receber a mudança mais rapidamente, “em poucos dias”, o “capital
humano”, o “desenvolvimento extraordinário do Porto, ligações aéreas
suficientes, entre outras. Recusou por isso a tese de que Lisboa, por ser a
capital, tivesse mais condições à partida: “Não corresponde à verdade.” Para
além disso, sublinhou, uma sede como esta “vai gerar dinâmicas” na cidade. “O
Porto está mais próximo do centro da Europa, o Porto tem uma relação muito
importante com o noroeste da Península com Espanha”, disse. E garantiu que o
Governo vai empenhar-se, para que o país saia vencedor.
O processo que culmina agora
com a escolha do Porto está muito longe de ter sido pacífico. Recorde-se que o
Governo escolheu Lisboa em primeiro lugar e que até a Assembleia da República aprovou por unanimidade
um voto de saudação pela decisão tomada.
Só que o Porto contestou a
decisão, com o autarca Rui Moreira a erguer bem alto a voz. A polémica escalou
de tal forma que o Governo se viu obrigado a recuar. Abriu-se uma nova fase de
discussão em redor do tema, até porque os partidos que tinham votado
favoravelmente o voto de saudação no Parlamento vieram, mais tarde, colocar em
causa que a escolha recaísse em Lisboa.
Depois de ser conhecida a
decisão, o autacarca elogiou o "recuar" do Governo. No entanto,
lembrou que "nada está ganho". "Agora temos de preparar uma
grande candidatura para que isto não seja apenas uma questão nacional, mas para
que se transforme e ganhe força", continuou. Rui Moreira vincou o nível de
"preparação" da cidade, com o crescente investimento que tem sido
feito no seu para receber esta instituição.
À Comissão Nacional de
Candidatura constituída pelo executivo juntaram-se, já depois da confusão
criada, dois representantes da cidade do Porto, indicados pela câmara, para que
a balança ficasse equilibrada (a Comissão já tinha dois representantes de
Lisboa). Depois de nova discussão surge então nova escolha: afinal é o Porto
quem vai encabeçar a candidatura portuguesa, numa corrida na qual vão entrar
outras cidades como, por exemplo, Bruxelas, Barcelona, Milão, Amesterdão,
Atenas, Dublin, Copenhaga e Estocolmo.
Apesar de ter garantido que
aceitaria qualquer uma das escolhas, o presidente da Câmara Municipal do Porto
também tinha mostrado vontade de que o argumento da descentralização pesasse na
hora h. E pesou. Como diz a letra do cantor portuense, Sérgio Godinho, o Porto
está afinal “aqui tão perto”.
Em comunicado enviado à
agência Lusa, o BE, pela voz do seu candidato à Câmara Municipal do Porto, João
Teixeira Lopes, exortou a decisão. Para o BE, "é agora tempo de cessarem
os aproveitamentos políticos numa matéria tão importante para a cidade",
lamentando os bloquistas "que Rui Moreira e Manuel Pizarro tenham usado a
candidatura da cidade como arma de arremesso eleitoral".
Álvaro Almeida, candidato
da coligação PSD/PPM ao Porto, lamentou a "enorme perda de tempo"
causada pelo Governo. "As razões que justificam esta escolha são
inequívocas e são essencialmente as apontadas desde o início pelo nosso
candidato. A atitude inicial do Executivo significa apenas uma vez mais que o
tique centralista do Estado continua bem vivo e que a unidade demonstrada na
defesa da solução agora apontada é o caminho para futuro", cita a agência
Lusa.
"Agora é preciso que
todos se empenhem no sucesso da candidatura, para concretizarmos a conquista de
um equipamento que pode revelar-se de grande importância para o desenvolvimento
da Área Metropolitana e da própria região Norte", considerou
o presidente do Conselho Metropolitano do Porto, Emídio
Sousa. "Esta agência europeia é um dos serviços que verdadeiramente
pode contribuir para o desenvolvimento da região, pelo que representa de
empregabilidade qualificada e atividades de valor acrescentado",
acrescentou, em declarações à Lusa.
MARIA JOÃO LOPES , com Liliana
Borges
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