Parceria entre CQMED, Aché e
Embrapii ajuda a identificar molécula inédita ligada a processos tumorais
TEXTO
PAULA DRUMMOND DE CASTRO | CQMED
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Uma das etapas crucias na
busca por novos medicamentos é encontrar uma molécula capaz de impedir o
funcionamento de uma proteína-chave ligada à enfermidade. Muitas vezes, os
cientistas encontram moléculas que interrompem o funcionamento de proteínas-alvo
da doença, mas isso tem pouco valor se ela se ligar também a proteínas não
envolvidas no processo. Uma boa molécula para a elaboração de medicamento deve
ser seletiva, específica e potente.
Recentemente, um grupo de
pesquisadores do Centro de Química Medicinal da Unicamp e dos Laboratórios
Farmacêuticos Aché encontrou uma molécula bastante seletiva e com aplicação
inédita em enzimas envolvidas em contextos oncológicos. Ela se mostrou capaz de
inibir as proteínas DYRK1A e DYRK1B, abundantes em processos tumorais. O estudo foi
publicado na Bioorganic & Medicinal Chemistry Letters. “Nosso
objetivo era encontrar um inibidor seletivo e potente para agir nas proteínas
DYRK1, para então explorar o potencial terapêutico da molécula”, explica Rafael
Couñago, pesquisador do CQMED e um dos autores do estudo.
A molécula inibidora se liga
tanto à DYRK1A quanto à DYRK1B, que são semelhantes do ponto de vista
estrutural. Ambas são enzimas do tipo quinase, consideradas bons alvos para o
desenvolvimento de estratégias terapêuticas.
Representação da molécula contendo o esqueleto benzotiofeno (em amarelo) interagindo com a proteína DYRK1A (em tons de azul)
Dada a sua relação com processos
tumorais, a DYRK1 A é uma quinase bastante estudada. Entretanto, até o momento,
os inibidores dessa proteína não eram seletivos o suficiente, atingindo toda
uma família de quinases, o que inviabilizava seu uso em terapias, em
decorrência da sua toxicidade, explica Couñago.
A novidade do trabalho foi a
criação de uma molécula inibidora a partir de um núcleo químico inédito na
literatura científica. “Esse núcleo químico tornou a molécula mais seletiva e
consideravelmente mais potente contra as DYRK1 do que contra outras proteínas
humanas”, esclarece Couñago.
Os autores testaram a nova
molécula em 480 quinases, observando que o composto inibiu a DYRK1A e a DYRK1B.
“O padrão de seletividade é totalmente diferente do existente e é complementar
ao que já se conhece na literatura”, explica Hatylas Azevedo, gerente de
Pesquisa e Desenvolvimento no Aché Laboratórios Farmacêuticos e coautor do
estudo. “Temos uma nova ferramenta para investigar o papel dessa quinase em
contextos oncológicos”, complementa Azevedo.
Colaboração em inovação aberta
- A parceria entre o CQMED e o Laboratório Aché nasceu há
cinco anos, no modelo de ciência aberta, tendo sido mediada pela Embrapii
(Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial). “Trabalhamos de modo
complementar. Por exemplo, nesse estudo, o Aché fez o design e a síntese de
moléculas, e participamos da discussão dos ensaios biológicos envolvidos. O
CQMED desenvolveu e implementou os ensaios biológicos e celulares”, explica
Edson Bernes, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do Aché Laboratórios. Este
é o terceiro
artigo científico publicado pela equipe CQMED e Aché.
As publicações científicas com
coautoria da empresa fazem parte do modelo de ciência aberta, em que os avanços
científicos, como artigos e base de dados, são tornados públicos para que a
informação circule mais rapidamente e os avanços na área de pesquisa sejam
validados. “Isso ajuda a fomentar o ecossistema de inovação no país e acelerar
novas descobertas”, complementa Azevedo.
Para o CQMED, essa parceria
representa a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento do complexo
industrial da saúde do País, garantindo que o potencial translacional da
pesquisa seja explorado em sua plenitude.
Carlos Eduardo Pereira,
diretor de operações da Embrapii, ressalta que, atualmente, as soluções
tecnológicas nesse setor correspondem a 13% do portfólio das Unidades Embrapii.
“São mais de duzentos projetos, em diversas áreas: nanotecnologia,
biotecnologia, softwares, devices, automação de processos produtivos,
manufatura aditiva, entre outros. Na indústria da saúde, a inovação é uma
variável imperativa. Este projeto, em especial, é uma inovação no setor da
saúde, com a possibilidade de tratamentos oncológicos no país” finaliza
Pereira.
Sobre o CQMED
O Centro de Química Medicinal
da Unicamp é especializado nas fases iniciais de desenvolvimento de novas
drogas e foi credenciado como uma Unidade da Embrapii (Empresa Brasileira de
Pesquisa e Inovação). O centro desenvolveu uma plataforma de descoberta de
moléculas inibidoras de alvos específicos relacionados a doenças humanas.
Localizado na Unicamp, o
espaço é vinculado ao IB (Instituto de Biologia) e ao CBMEG (Centro de Biologia
Molecular e Engenharia Genética). Ele também integra o Programa Institutos
Nacionais de Ciência e Tecnologia INCT, apoiado pelo CNPq, Capes e Fapesp.
Sobre o Aché
O Aché Laboratórios é uma
indústria farmacêutica nacional com 55 anos de história. A empresa disponibiliza
produtos e serviços diferenciados para a sociedade, estabelecendo vínculos de
confiança e respeito com seus colaboradores, clientes, consumidores e
parceiros. O Aché está entre as cinco maiores corporações farmacêuticas do
Brasil e pretende ser a empresa farmacêutica brasileira mais inovadora,
investindo em projetos de P&D internos e em parceria para viabilizar a
inovação incremental e radical.
Sobre a Embrapii
A Embrapii foi criada em 2013 como uma organização social com autonomia para gerenciar fundos do Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação e Ministério da Educação. Seu propósito é estimular a inovação na indústria brasileira, promovendo a interação entre instituições de pesquisa tecnológica e empresas do setor industrial.
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