Realizado nessa terça-feira
(4) em São José dos Campos (SP), o primeiro Warm up do CIMES (Congresso
Nacional de Inovação em Materiais e Equipamentos para Saúde) discutiu a
importância da inovação na cadeia de saúde. Coordenado pelo professor doutor
Renato Zângaro, responsável pelo gerenciamento das atividades do Centro
Tecnológico em Saúde do Parque Tecnológico de São José dos Campos e pesquisador
da Universidade Anhembi Morumbi na área de Engenharia Biomédica, o evento
contou com a presença de importantes nomes da academia e também da indústria
nacionais.
O encontro objetivava
incentivar o desenvolvimento tecnológico da indústria da saúde, fomentando as
atividades na região metropolitana do Vale do Paraíba. Essa decisão foi
elogiada pelo secretário de inovação e desenvolvimento de São José, Alberto
‘Mano’ Marques. “A estratégia da cidade é ser inovadora. São décadas de
trabalho, e estamos discutindo a gestão do parque tecnológico para os próximos
cinco anos tendo ciência da importância do cluster da saúde dentro
da área médica”, comenta e também reconhece como fundamental a ajuda do poder
público para que a inovação do setor de saúde ocorra.
Durante toda a manhã,
juntamente com Zângaro, Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da ABIMO;
Gelson Campanatti Júnior, gerente de pesquisa e inovação da Siemens Healthcare;
Ivan Hong Jun Koh, professor da Unifesp; e Domingo Braile, presidente do
conselho da Braile Biomédica, debateram questões relacionadas aos principais
gargalos da inovação no Brasil e da atenção à busca por inovação não só de
produtos mas também de processos, além de reforçar a importância do
investimento público nos setores de pesquisa e desenvolvimento.
“Acordamos e vivemos
inovação”, declarou Campanatti, cuja empresa acredita que um dos pontos principais
é ouvir e atender às demandas locais. “Temos que trazer a inovação e temos que
escutar o mercado. E este é o nosso lema: escutar mais do que falamos para
entender como podemos melhorar os processos, os problemas, e como trazer
produtos robustos que possam chegar ao mercado com segurança”, disse.
Considerando o impacto que a
inovação tem na indústria, a Braile Biomédica abriu um dado interessante:
investe cerca de 3,1% de seu faturamento em P&D. Número superior aos 2,8%
investidos pelo setor nacional que fabrica instrumentos e materiais para uso
médico, odontológico e artigos ópticos (dados da Pesquisa de Inovação Pintec,
emitidos em 2014 pelo IBGE). “Inovação é uma busca constante, principalmente na
área da saúde, que tem tempo de prateleira extremamente curto. Sempre tem
alguém fazendo melhor ou mais barato”, diz Braile.
Concordando que inovar é uma
característica que não deve ser encarada como um momento pontual, mas sim
vivenciada e estimulada constantemente, Fraccaro declarou: “A inovação tem de
ser um bichinho que toda hora está te coçando para sair do lugar comum e do
comodismo. Se fizermos tudo igual, a nossa chance será igual a de todo mundo”.
Entre as dificuldades
enfrentadas por quem quer inovar no país estão a falta de incentivos
governamentais, que direcionam a indústria a empréstimos em bancos privados; a
carência de profissionais com conhecimentos multidisciplinares para ofertar
visões mais amplas ao setor; e os entraves relacionados à propriedade
intelectual das inovações – “Sempre haverá a discussão sobre quem é o dono da
ideia”, declara Fraccaro.
Linhas de investimento
Em continuidade à sessão de
painéis, no período da tarde o evento recebeu uma mesa-redonda com o tema
“Linhas de Investimento para Inovação no Segmento da Saúde”. A mesa foi
composta pelo diretor da Investe São Paulo (Agência Paulista de Promoção de
Investimentos e Competitividade), Sergio Costa; pelo diretor-presidente da
Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), Jorge
Guimarães; e pelo professor da Universidade Anhembi Morumbi, Marcos Tadeu
Pacheco.
O professor da Unifesp
(Universidade Federal de São Paulo), Fabiano Paixão, foi o moderador do evento
e destacou os órgãos de fomento à inovação por meio de pesquisa básica e
pesquisa tecnológica. Foram citadas entidades investidoras como a Capes
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Fapesp (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e Finep (Financiadora de Estudos e
Projetos). Paixão evidenciou ainda algumas alternativas vigentes para
transformar projetos e pesquisas em dispositivos para o mercado consumidor.
“Nesse sentido a própria Fapesp tem um programa de apoio ao financiamento, e
temos os incentivos da Lei de Informática, que permite às empresas investirem
nas universidades para colocar as tecnologias desenvolvidas durante a formação
no mercado consumidor”, explica. O moderador citou ainda a Lei do Bem, que cria
a concessão de incentivos fiscais às pessoas jurídicas que realizarem pesquisa
e desenvolvimento de inovação tecnológica.
O governo federal, por meio do
MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), utiliza esse mecanismo
para fomentar investimentos em inovação por parte do setor privado. Com isso,
busca aproximar as empresas de universidades e institutos de pesquisa,
potencializando os resultados em P&D.
Jorge Guimarães ressaltou o
trabalho desenvolvido pela Embrapii no estímulo à inovação. A empresa atua por
meio da cooperação com instituições de pesquisa científica e tecnológica,
públicas ou privadas, tendo como foco as demandas empresariais e como alvo o
compartilhamento de risco na fase pré-competitiva da inovação. “Os principais
objetivos da Embrapii são promover a inovação na indústria (diminuir risco e
custo), além de dar agilidade e flexibilidade na contratação e execução de
projetos de PD&I”, pontua Guimarães, que ainda acrescentou: “Oferecemos
fluxo contínuo para contratação de projetos e atendemos às demandas das empresas
por inovação. Fomentamos a colaboração entre empresas e ICTs e compartilhamos
investimentos em PD&I com as empresas”.
Em seguida, Sergio Costa falou
sobre a atuação da Investe São Paulo no apoio ao empreendedor para que ele
identifique os melhores locais do estado de São Paulo para investir, de acordo
com as necessidades de sua atividade: mão de obra, infraestrutura, logística,
disponibilidade de fornecedores, mercado consumidor, meio ambiente, entre
outros fatores.
Similarmente, a agência
incentiva as exportações dos produtores paulistas, capacitando os potenciais
exportadores, auxiliando também na interlocução com órgãos públicos,
associações nacionais e internacionais, e iniciativa privada.
“Temos um esforço muito grande
de prospecção de empresas. No ano passado, atingimos em média 2.900 empresas e,
desse total, cerca de 600 já tinham projetos de investimentos em andamento.
Desse montante, conseguimos trazer para nossa carteira 109 projetos de
investimentos só no ano passado”, enfatizou. “O ano foi difícil para se falar
em investimento, mas esse resultado foi 35% maior do que em 2015.”
A Investe São Paulo articula
com entidades públicas e privadas relevantes para o processo de atração de
investimentos e exportação, oferecendo suporte e capacitação às empresas na
exportação de seus produtos, facilitando questões relativas à logística,
atendimento aos padrões internacionais, infraestrutura e também dando auxílio
na busca por mercados promissores.
“Somos educadores dos
investidores, já que eles terão todos os recursos para tomada de decisão.
Facilitamos ainda todas etapas para licenciamento ambiental junto à Cetesb.
Antes o prazo para obter licenciamento ambiental levava cerca de dois anos.
Fizemos um trabalho para otimizar esse licenciamento, e hoje com cerca de quatro
meses as empresas já obtêm o licenciamento. ”
Pipe
Marcos Tadeu, professor da
Anhembi Morumbi, apresentou o Pipe (Programa Fapesp Pesquisa Inovativa em
Pequenas Empresas), linha de financiamento que apoia a execução de pesquisa
científica e/ou tecnológica em micro, pequenas e médias empresas no estado de
São Paulo.
O Pipe visa apoiar a pesquisa
em ciência e tecnologia como instrumento para promover a inovação tecnológica,
promover o desenvolvimento empresarial e aumentar a competitividade das
pequenas empresas. Podem apresentar propostas pesquisadores vinculados a
empresas de pequeno porte (com até 250 empregados) com unidade de pesquisa e
desenvolvimento no estado de São Paulo.
Estão reservados até R$ 15
milhões para atendimento às propostas selecionadas. Os planos de financiamento
devem conter projetos de pesquisa que possam ser desenvolvidos em duas etapas:
demonstração da viabilidade tecnológica de produto ou processo, com duração
máxima de nove meses e recursos de até R$ 200 mil; e o desenvolvimento do
produto ou processo inovador, com duração máxima de 24 meses e recursos de até
R$ 1 milhão.
“O Pipe não exige nenhum tipo
de titulação para o proponente. Se a pessoa não tiver concluído o segundo grau,
mas tiver uma boa ideia e um bom projeto, deve encaminhá-lo ao programa, pois
vai ser analisado e, caso seja concedido, o proponente terá 200 mil reais na
fase I e R$ 1 milhão na fase II.”
O prazo para envio de projetos
termina no dia 2 de maio. Os interessados podem consultar
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