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quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

SOCIEDADE CIVIL TEME QUE MUDANÇAS NA GESTÃO DE RECURSOS DO SUS AFETEM POLÍTICAS DE PREVENÇÃO E TRATAMENTO DA AIDS


Representantes de organizações da sociedade civil temem que mudanças implementadas pelo Ministério da Saúde no repasse de verbas federais para estados e municípios afetem as políticas de combate à Aids. O assunto foi debatido em audiência pública na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara (nesta terça-feira. 4).

Até um ano atrás, os recursos repassados aos estados e municípios eram divididos entre seis áreas – atenção básica, média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar, vigilância em saúde, assistência farmacêutica, gestão do Sistema Único de Saúde e investimentos. Com a edição de uma portaria pelo ministério em dezembro de 2017 (Portaria 3.992/17), esse repasse passou a ser feito apenas a dois blocos: investimentos e custeio.

Rodrigo Pinheiro, da Articulação Nacional de Aids, pediu que a Comissão de Seguridade aprove Projeto de Decreto Legislativo (PDC 885/18) da deputada Erika Kokay, do PT do Distrito Federal, que susta essa portaria. Para ele, o impacto da medida será sentido a partir de 2019:

"Essa portaria é o começo da extinção dos programas de Aids, principalmente dos programas municipais, porque isso fica a critério do gestor local implementar esse tipo de política, e nós sabemos que na base isso não será prioridade, nós sabemos que na base a questão do enfrentamento à Aids não é um grande problema de saúde pública. Você vai no estado de São Paulo, de onde eu venho, principalmente nessa época de verão, dengue, chikungunya, essas outras coisas têm uma prioridade muito maior e se alocam recursos para isso."

Gerson Pereira, do Departamento de IST/Aids do Ministério da Saúde, ressaltou que, nos últimos quatro anos, houve queda de 16,5% na taxa de mortalidade por Aids no Brasil. Essa taxa passou de 5,7 mortes por 100 mil habitantes em 2014 para 4,8 óbitos em 2017. Conforme ele, dados do último ano ainda não estão consolidados, mas ele garantiu que a taxa de mortalidade por Aids no País continua diminuindo mesmo com a mudança na forma de repasse dos recursos de saúde para estados e municípios.

Mas Deniz Catarina Araújo, representante do Movimento Nacional das Cidadãs PoliHIVas, afirmou que as organizações sociais que ajudam o governo na política de combate à Aids não estão recebendo recursos, como ocorria em anos anteriores.

Nereu Mansano, representante do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, argumentou que os gestores têm enfrentado dificuldade para repassar recursos para os movimentos sociais por conta da dificuldade de prestar contas aos órgãos de controle. Ele defendeu a portaria que alterou a forma de repasse das verbas federais da área de saúde para estados e municípios:

"Já na vigência de um ano da Portaria 3.992, ficou evidente que, na verdade, o impacto é pequeno ou nenhum em relação às políticas de DST/Aids. O que nós precisamos é continuar com a mobilização da sociedade e não deixar de contemplar nos planos, na programação e no orçamento as ações de vigilância e dentro delas as ações de DST/Aids."
O deputado Odorico Monteiro, do PSB do Ceará, que pediu a realização do debate, ressaltou que a tendência é de restrição orçamentária progressiva na área da saúde por conta da Emenda do Teto de Gastos (96/16). Ele destacou a importância das organizações da sociedade civil para a implementação das políticas contra Aids.

Reportagem - Lara Haje


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