Fila de espera por uma consulta pode
chegar a dois anos tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) quanto na rede privada
Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência debateu o
tema em audiência pública
Médicos ouvidos pela Comissão de
Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Câmara dos Deputados
apontaram um enorme deficit de atendimento de quem sofre de paralisia cerebral
no Brasil. Segundo o quadro relatado, crianças esperam anos na fila de
atendimento e, muitas vezes, chegam ao consultório com problemas que poderiam
ser evitados.
Além disso, o número de casos está
crescendo, pois o avanço da medicina permite que bebês sobrevivam em condições
muito complexas e, eventualmente, esses casos deixam sequelas da paralisia
cerebral.
A médica fisiatra Gabriella Souza é
presidente da Fraternidade Irmã Clara, que presta atendimento a cerca de 40
pessoas com paralisia cerebral que vivem na instituição. Ela explicou que a
paralisia apresenta um leque muito grande de sequelas, desde casos leves aos
mais severos.
Ela ressaltou que, em todos os casos,
o dano é permanente, “como uma cicatriz no cérebro”, e a evolução das sequelas
vai depender do atendimento que a pessoa recebe.
Assistência à gestante
A médica afirmou que a assistência à
mãe durante a gravidez é fundamental para a prevenção de novos casos. Ainda
assim, Gabriella Souza acredita que o número de casos seguirá aumentando. “Por
conta da melhoria da assistência neonatal, os pacientes que são muito graves
sobrevivem, mas com sequelas neurológicas mais graves. Precisamos estar
preparados [para atendê-los]”, disse a médica.
O presidente da Associação Brasileira
de Paralisia Cerebral, o médico João Alírio Teixeira Júnior, lamentou que ainda
existam crianças nascendo sem que a mãe tenha recebido assistência pré-natal.
João Alírio afirmou que faltam
centros de atendimento especializado em todo o País. Ele deu o exemplo da
unidade onde trabalha, em Goiânia. “Hoje, fazemos cerca de 400 cirurgias de
alta complexidade por mês, porém há 3 mil pacientes na fila. Para atendimento
ambulatorial, temos fila de um ano”, informou.
Segundo ele, a fila de espera por uma
consulta pode chegar a dois anos tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) quanto
na rede privada. O médico afirmou, ainda, que os planos de saúde não querem
atender os pacientes de paralisia cerebral, ou então os planos oferecem
serviços que não atendem a todas as necessidades.
O deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG),
que propôs a audiência pública sobre o tema, destacou que a pessoa com
paralisia cerebral também enfrenta a falta de acesso a tecnologias assistivas –
equipamentos que poderiam trazer mais independência e ampliar as possibilidades
pessoais e profissionais.
“Não temos tecnologia assistiva à
disposição de todos os paralisados cerebrais, então eles adquirem desvios de
postura por falta de uma cadeira adequada, de uma cama adequada, e isso tem
trazido a eles uma dificuldade adicional. Quem dera se os nossos paralisados
cerebrais fossem como os americanos, que você pode mover uma cama pelo piscar
do olhar, que pode trazer um copo a sua boca pelo acesso a um dispositivo
eletrônico”, afirmou o deputado.
Lucio Bernardo Junior/Câmara dos
Deputados
Gabriella Souza: assistência à gestante é fundamental para a prevenção
de novos casos
Abandono familiar
A Associação Cruz Verde é uma
entidade especializada em atender pessoas com paralisia cerebral grave.
Atualmente, a instituição atende 204 pacientes, sendo que cerca de 30% deles
foram completamente abandonados pelas famílias.
“A gente ouve tanto falar em inclusão
e, nosso caso, fazemos o que é possível. Alguns deles têm um acometimento tão
severo que sequer é possível fazer um passeio na rua. Os pacientes da nossa
instituição não têm alta. A oportunidade do afeto nessas condições está nas
nossas mãos, e é isso que fazemos todos os dias”, disse a superintendente da
associação, Marilena Pacios.
Ela ressaltou que o atendimento de
alta complexidade é feito na própria instituição, mas que eventualmente os
pacientes precisam de acesso a unidades de terapia intensiva (UTIs) no sistema
público de saúde. Marilena disse que as UTIs, no entanto, estão sempre lotadas
e que os profissionais de saúde são despreparados em relação à paralisia
cerebral.
Investimentos do governo
A coordenadora-geral de Saúde da
Pessoa com Deficiência do Ministério da Saúde, Vera Lúcia Mendes, reconheceu
que a rede de atendimento é insuficiente, mas rebateu as críticas. Ela disse
que o governo está atuando na prevenção com o atendimento às gestantes no
sistema de atenção básica e em campanhas de vacinação contra rubéola, doença
que é uma das causas de crianças que nascem com paralisia cerebral.
Além disso, ela afirmou que é um
engano dizer que o Brasil não oferece tecnologia assistiva à população. “A
partir de 2012, muita tecnologia assistiva foi incluída no SUS, incluindo sete
modelos de cadeiras de rodas, sendo um deles de cadeira motorizada. Junto com
Estados Unidos e Canadá, o Brasil é o país que mais oferece tecnologias
assistivas nas Américas”, disse a coordenadora.
A deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP)
endossou a crítica sobre o atendimento público e pediu o apoio do Ministério da
Saúde para mudar essa situação. Ela falou das dificuldades do serviço de
reabilitação oferecido na cidade de São Paulo, que possui 15 centros
especializados. “Eu conheço um a um e digo que eles não funcionam. O melhor
deles, que é o centro de Jardim Herculano, que sempre foi um exemplo para todos
os outros, teve uma perda grande do número de procedimentos e de atendimentos,
e tem equipamentos sucateados. Estou falando isso como uma informação para que
o Ministério da Saúde possa nos ajudar nisso.”
O Brasil não tem números oficiais
sobre o número de pessoas com paralisia cerebral. As estatísticas em países em
desenvolvimento mostram 7 casos a cada mil nascimentos. Nos países
desenvolvidos, os casos baixam para 2 a cada mil nascidos.
A audiência que debateu o tema foi
realizada pela comissão na última quarta-feira (8).
Da Redação – PT foto: Lucio Bernardo
Jr./Câmara dos Deputados
Com informações da Comissão de Defesa
das Pessoas com Deficiência
Agência Câmara Notícias
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