Escrito por Gustavo
Marques
Uniforme branco, luva e
calçado especial. Não estamos falando de futebol ou outro esporte, mas fique
sabendo que pertinho da gente existe uma verdadeira seleção que pode salvar a
sua vida. São os Caça-Aranhas, que prometem para a temporada 2020 a captura de
45 mil aranhas-marrons no Paraná e parte de Santa Catarina.
Os Caça- Aranhas são formados
por cinco técnicos do Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos (CPPI)
do governo do estado, na cidade de Piraquara, na região de Curitiba . O CPPI é
referência nacional na produção do soro antiloxoscélico, utilizado contra a
picada da aranha-marrom.
Equipe de coleta de
aranhas-marrons do CPPI: trabalho fundamental para coleta do veneno para
produção do soro. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná
Segundo dados da Secretaria de
Saúde do Paraná, em 2019 foram 3.752 vítimas do aracnídeo conhecido pela
picada que necrosa os tecidos. Ao buscarem atendimento, o soro foi fundamental
para a cura e, em muitos casos, até evitar a morte. Em apenas duas situações
não foi possível reverter o quadro – uma em União da Vitória, no Sul do estado,
e outra em Francisco Beltrão, no Sudoeste.
Para a produção deste soro, o
processo não é simples. Além de tecnologia e investimento, os Caça-Aranhas
colocam literalmente a mão na massa, ou melhor, nas aranhas. Neste seleto
grupo, não existe espaço para medo, insegurança e receio de ser picado. O
início da logística ocorre com as expedições quando Antônio Pinheiro, José
Lúcio Alves Martins, Júlio Padilha, Acir do Rosário Mendes e Aroldo de Morais
se encontram e partem rumo a lugares como fazendas, sítios ou até empresas
abandonadas. A ideia é encontrar muitos tijolos ou telhas, que são perfeitos
esconderijos para o temido aracnídeo.
Em um único terreno, os
caça-aranhas chegam a coletar 500 aracnídeos. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do
Paraná
João Carlos Minozzo, médico
veterinário e chefe da Divisão de Pesquisa do CPPI, conhece bem a equipe que
não mede esforços para alcançar o objetivo de capturar três mil aranhas em cada
expedição realizada. “São 14 viagens e chegamos a encontrar em um único espaço
mais de 500 aranhas-marrons. Os Caça-Aranhas são ousados, capacitados com muito
treinamento. Além de capturá-los com a mão, eles identificam as espécies,
trazem ao laboratório e extraem o veneno. Eles ajudam demais a
população”, ressalta Minozzo.
A captura para esta turma é
algo simples. Com uma luva especial que evita que a picada chegue até a pele
dos Caça-Aranhas, a equipe recolhe uma aranha por vez. Se estiver muito
pequena, o animal não é recolhido e permanece no local. A ideia é que a aranha cresça
para que quando foi capturada, a quantidade de veneno seja maior.
Choque na Aranha!
Para retirar o veneno das
aranhas, o trabalho é quase artesanal. Os especialistas utilizam pequenos
choques no animal – para extrair os 15 mg de veneno que são injetados no cavalo
para a produção do soro são necessárias 300 aranhas. O choque não mata o aracnídeo.
Após chegar à CPPI, cada aranha passa por uma média de três sessões de choque a
cada 40 dias.
Foto: Gerson Klaina/Tribuna do
Paraná
As aranhas são alimentadas por
pequenas baratas que são criadas em laboratórios e ficam alojadas em frascos.
Após a extração do veneno, o líquido é aplicado nos cavalos junto com uma
substância que anula o efeito da toxina para não envenenar o equino. Após 35
dias de inoculação do veneno, a primeira bolsa de sangue equinos é retirada dos
equinos – são três no total. O plasma, onde ficam os anticorpos produzidos
pelos cavalos, é separado para a produção do soro antiloxoscélico no Instituto
Butantã, em São Paulo. Já os glóbulos vermelhos são reintroduzidos nos cavalos.
O Butantã é considerado para
os Caça-Aranhas, uma espécie de Maracanã. O local produz quase um milhão de
ampolas de soro por ano e fascina que tem interesse em trabalhar com pesquisas
biológicas. José Lúcio Alves Martins, 71 anos, um dos Caça-Aranhas do Paraná,
passou por um curso na capital paulista antes de ingressar nesta seleção.
Ali estudou com detalhes a
vida de animais peçonhentos e entendeu o significado de colocar a vida em risco
para que outra pessoa venha a ser beneficiada. “Eu trabalhei no Ministério da
Saúde e quando surgiu uma vaga, achei que era a hora de aprender ainda mais.
Gosto muito daqui, pois ajudamos muita gente. Somos reconhecidos nas ruas e
brincam conosco falando que chegaram os caras das aranhas. É muito importante
este trabalho”, orgulha-se o veterano da equipe que veste a camisa há 13 anos.
Mesmo tendo os Caça-Aranhas a
disposição, a população não pode brincar com o bicho. O grande segredo é
deixar todos os espaços limpos com uso de pano e aspirador de pó.
Geralmente, as aranhas ficam escondidas entre as roupas e calçados. No
ambiente externo é preciso dar atenção para materiais de construção e restos de
madeiras. “É preciso ter cuidado, mas a aranha não é agressiva. Ela fica
ofendida quando a pessoa altera a forma que ela está posicionada e quer fugir.
A picada é para ela ficar livre”, garante José Lúcio Alves Martins.
O serviço é gratuito, mas
recomenda-se que procure o Centro somente quando visualizar muitas aranhas
dentro de casa. O telefone é o (041) 3673-8800.
Produção de soro de
aranha-marrom
Centro de Produção e Pesquisa
de Imunobiológicos (CPPI) em Piraquara produz antídoto da espécie Loxosceles
para todo o Brasil
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