A FAPESP e a empresa farmacêutica
Glaxo SmithKline Brasil (GSK) anunciaram na terça-feira (17/11) a criação de
dois novos Centros de Excelência em Pesquisa no Estado de São Paulo – um deles
sediado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e dedicado a desenvolver
novas tecnologias na área de química sustentável e outro no Instituto Butantan,
voltado à validação de alvos terapêuticos que possibilitem a criação de novos
fármacos para doenças de base inflamatória.
Selecionados em
duas chamadas públicas de propostas lançadas em 2014, os projetos receberão
investimentos da ordem de R$ 88,4 milhões para o desenvolvimento de estudos ao
longo dos próximos dez anos. Desse montante, a FAPESP e a GSK vão compartilhar
R$ 34,6 milhões. Outros R$ 53,7 milhões serão investidos pelas
instituições-sede.
“A FAPESP tem feito
um grande esforço para ampliar as atividades acadêmicas de modo a beneficiar a
indústria e a sociedade. Temos assinado acordos de parceria com empresas. Este
com a GSK parece particularmente interessante, pois o Instituto Butantan tem
grande tradição de pesquisa, assim como a UFSCar”, disse o presidente da
FAPESP, José Goldemberg, durante o evento em que foram anunciados os projetos
escolhidos.
Cesar Rengifo,
presidente da GSK, contou que há cinco anos a empresa tomou a decisão de
investir em países onde há ciência de qualidade, entre eles o Brasil, e para
isso criou o programa Trust in Science. “Hoje confirmamos nosso compromisso,
pois nosso investimento no país vai aumentar em 50% nos próximos cinco anos.
Nosso objetivo é, no futuro, lançar um produto orgulhosamente descoberto no
Brasil”, afirmou.
Segundo Rengifo, assim como a
Argentina, o Brasil foi escolhido como parceiro-chave na América Latina por ter
uma grande produção científica e contar com instituições como a FAPESP, “que
conseguem articular a ciência de qualidade, de modo que os investimentos sejam
canalizados para os lugares certos”. “Nossa intenção é que o grande número de
publicações brasileiras se transforme em ciência aplicada”, disse o executivo
em entrevista à Agência FAPESP.
Também presente no
evento, o ministro de estado britânico para Comércio e Investimento, Francis
Maude, ressaltou que a nova parceria reforça os laços já existentes entre
FAPESP e Reino Unido. “Já há 32 acordos entre a FAPESP e universidades e
empresas britânicas. A instituição também é a parceira brasileira em diversos
programas dedicados a promover colaboração além-mar”, disse.
Maude disse estar
confiante de que a nova parceria levará à produção de ciência de excelência e a
impactos sociais e econômicos significativos. “Os resultados vão nos capacitar
para lidar melhor com questões globais de saúde e, ao longo do caminho, gerar
crescimento e empregos no Brasil e no Reino Unido”, afirmou.
Escopo dos novos centros
Coordenado pela professora Ana Marisa Chudzinski-Tavassi,
no Instituto Butantan, o Centro de Excelência em Pesquisa Básica Orientada
(Centre of Excellence for Research in Target Discovery) tem como objetivo
identificar alvos moleculares e vias de sinalização envolvidas em doenças de
base inflamatória, como artrite reumatoide, síndrome metabólica e doenças
neurodegenerativas.
A ideia é usar
produtos naturais, como venenos e secreções animais, na validação dos alvos
terapêuticos, abrindo caminho para o desenvolvimento de novos fármacos.
Já o Centro de Excelência em Química
Sustentável (Centre of Excellence for Research in Sustainable Chemistry),
coordenado pela professora da UFSCar Arlene Gonçalves Corrêa,
terá como missão buscar métodos mais eficientes de síntese orgânica, com menor
impacto ambiental.
As pesquisas vão
privilegiar o uso de solventes e fontes de energia sustentáveis, reagentes mais
seguros, processos mais limpos, matérias-primas renováveis e buscar métodos
“verdes” para triagem de compostos ativos. Além de pesquisadores da UFSCar, a
equipe contará com membros da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da
Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, da Universidade Estadual
Paulista (Unesp) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
O diretor
científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, explicou que os projetos
que darão origem aos centros foram selecionados por um comitê de cientistas
escolhido pela Fundação e pela GSK.
Segundo Brito Cruz,
com base na experiência acumulada pela FAPESP ao longo de 20 anos de fomento à
pesquisa colaborativa entre universidade e indústria, foram estabelecidas
algumas características consideradas prioritárias para assegurar que os centros
atinjam os objetivos propostos.
“Em primeiro lugar,
é preciso ter um plano para produzir ciência de primeira classe. Além disso, as
instituições-sede devem se comprometer a oferecer apoio adequado para os
centros funcionarem. Finalmente, é preciso haver pesquisadores da empresa
trabalhando junto com os da universidade. Em cada centro há um coordenador, que
é o investigador principal, e há também um coordenador adjunto, que será um
pesquisador qualificado, apontado pela empresa, que será um pesquisador
visitante na instituição-sede. O objetivo é ter certeza de que o parceiro será
envolvido em todas as decisões e na operação cotidiana dos centros. Queremos que
uma real parceria se desenvolva”, ressaltou Brito Cruz”, ressaltou Brito Cruz.
“Nós não
pretendemos ficar sentados só observando. Vamos fazer parte das reuniões e das
discussões”, afirmou Isro Gloger, diretor do programa Trust in Science, da GSK.
Gloger contou que o
programa foi lançado em 2011 e disse que a empresa teve “sorte de firmar um
acordo com a FAPESP”. “Criamos um programa que acredito ser único, pois não
envolve apenas financiamento, mas também colaboração da empresa com grupos
acadêmicos. A GSK é um participante científico muito ativo. E, segundo o
acordo, a propriedade intelectual pertencerá ao cientista que de fato fizer a
descoberta”, disse Gloger.
Jorge Elias Kalil
Filho, diretor do Instituto Butantan, comemorou a oportunidade de contar com o
apoio de uma grande empresa como a GSK para transformar as descobertas feitas
na instituição em produtos úteis à sociedade.
Targino de Araújo
Filho, reitor da UFSCar, afirmou que a criação do centro – no momento em que a
instituição celebra seu 45º aniversário – é um presente e um reconhecimento da
qualidade e do esforço de seus pesquisadores. Segundo ele, a forma como o
centro será estruturado permitirá à universidade contribuir plenamente para o
desenvolvimento do país
Karina Toledo | Agência FAPESP
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