No ano passado, do total de
medicamentos comprados pelo Ministério da Saúde, 88% foram de remédios de
síntese química (como o ácido acetilsalicílico, por exemplo) e 12% de
biofármacos. Esses últimos, porém, pesaram mais no orçamento: representaram 61%
dos gastos. O motivo é que são drogas caras e importadas. Conhecidos como
medicamentos biológicos, são fabricados a partir de células geneticamente
modificadas ou de microorganismos, órgãos e tecidos de origem vegetal ou
animal. Estão entre os mais modernos para tratar doenças como câncer, esclerose
múltipla e artrite reumatoide.
Para economizar com os
biofármacos e, ainda, estimular sua produção no país, o Ministério da Saúde
procura acelerar as Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) nessa
área. Para isso, os laboratórios privados e públicos se unem para transferir a
tecnologia das drogas e fabricá-las no Brasil enquanto o governo se compromete
a comprar a produção pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Embora as primeiras PDPs para
medicamentos tenham surgido em 2009, só há dois anos as parcerias para
biofármacos começaram a tomar corpo, informa Eduardo Jorge Valadares Oliveira,
diretor do departamento de Complexo Industrial e Inovação em Saúde do
Ministério da Saúde. Os primeiros resultados já aparecem. "Até agora
somamos R$ 2,4 bilhões de economia. A projeção é que esse número suba para R$
5,3 bilhões quando todas as parcerias vigentes - e que estão em diferentes
estágios de desenvolvimento - sejam concluídas", diz. Atualmente, 19 com
laboratórios públicos e 50 privados participam das PDPs.
As parcerias podem evitar que
o Brasil perca mais uma vez o bonde do desenvolvimento de medicamentos, como
aconteceu na década de 1980 com diversos produtos farmoquímicos, adverte o presidente
executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São
Paulo (Sindusfarma) Nelson Mussolini. "Se tivéssemos feito parcerias como
essas no passado, hoje teríamos farmoquímicos mais baratos", diz.
Na indústria de medicamentos,
conforme explica, é preciso malhar o ferro quando ainda está quente. "Com
os biológicos ainda dá tempo", avalia. A multinacional Merck Medicamentos
assinou PDP para produzir no Brasil o Rebif (Betainterferona 1a subcutânea)
para o tratar esclerose múltipla. Será produzido em parceria com o Instituto de
Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Bio-Manguinhos/Fiocruz)
e a Bionovis. Segundo estimativa da empresa, a economia para o governo será de
R$ 27 milhões em sete anos. A Merck também participa de PDP com a Bionovis na
fabricação do adalimumabe, indicado para artrite reumatoide, artrite psoriática
e doença de Crohn. É o medicamento de maior custo para o governo - R$ 650
milhões por ano, informa Guilherme Maredei, presidente da Merck no Brasil.
Valor Econômico
Jornalista: Adriana Carvalho
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