Nelson Teich durante audiência remota com senadores, no dia 29 de abril
Leopoldo Silva/Agência Senado
A
demissão do ministro da Saúde, Nelson Teich, teve repercussão negativa entre os
senadores nesta sexta-feira (15). Os parlamentares que se manifestaram foram
unânimes em afirmar que o fato aponta despreparo e irresponsabilidade do
presidente da República. Para alguns, Jair Bolsonaro demonstrou que não pode
mais seguir no cargo.
Teich
pediu demissão na tarde desta sexta, e deixa o Ministério da Saúde menos de um
mês depois da saída do seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta. A pasta vai para
o seu terceiro ocupante durante a pandemia de covid-19 — que já produziu mais
de 212 mil casos e mais de 14 mil mortes no Brasil. O novo nome ainda não foi
escolhido pelo governo federal. O atual secretário-executivo, o general do
Exército Eduardo Pazuello, fica no cargo interinamente.
Para
o líder do MDB, senador Eduardo Braga (AM), a saída de Teich “eleva a
temperatura” da crise no país. Ele afirma que o Brasil carece de uma condução
“equilibrada” para enfrentar a pandemia.
“Esperamos
que a escolha do futuro ministro seja orientada por critérios técnicos e que o
Ministério da Saúde siga alinhado com a ciência. É fundamental a adoção de
medidas rápidas e efetivas para que possamos reduzir ao máximo o impacto dessa
calamidade”, escreveu ele em rede social.
O
líder do PSD, senador Otto Alencar (BA), direcionou críticas ao presidente Jair
Bolsonaro, a quem chamou de “psicótico”. Para o senador, as trocas de ministros
acontecem porque o chefe do Executivo “não respeita ninguém”.
“Precisamos
urgentemente de um bom psiquiatra para equilibrar o Bolsonaro. O Brasil não
merecia isso. Ele não vai mudar. Ele quer enquadrar os protocolos da saúde à
caserna, a saúde vai ter que ser enquadrada ao quartel”.
O
líder do PT, senador Rogério Carvalho (SE), atribuiu o atrito que levou à
demissão de Teich à insistência do governo com a hidroxicloroquina, medicação
que vem sendo testada no tratamento da covid-19, mas que ainda não apontou
resultados conclusivos. Ele também apontou que o governo negligencia outras
iniciativas, como testes, instalações hospitalares e contratação de médicos.
“Bolsonaro
se esconde na ilusão da cloroquina, que não salva vidas! Mais uma vez
reforçamos que a responsabilidade das milhares de pessoas doentes dos
brasileiros mortos é do presidente Bolsonaro!”, afirmou Rogério.
Para
o líder do Podemos, Alvaro Dias (PR), Bolsonaro demonstra “prepotência” e
“arrogância”, e está falhando em comandar o país. Ele avalia que o Congresso
deveria liderar o combate à pandemia, junto com estados e municípios.
“O
problema não são os ministros, o problema é o presidente, ou a ausência de um
presidente de verdade. O Brasil está à deriva. O presidente comporta-se como se
fosse o maior cientista do universo, interferindo onde não deve. É uma
irresponsabilidade sem tamanho”.
Os
senadores Humberto Costa (PT-PE) e José Serra (PSDB-SP), que já foram ministros
da Saúde, destacaram a postura de “negação da ciência” do presidente Jair
Bolsonaro, e apontaram-no como centro da crise que o país atravessa.
“Em
menos de um mês, o Ministério da Saúde fica novamente sem comando. O governo
brinca de fazer rodízio. Tudo obra de um presidente que quer levar milhares à
morte. O presidente da Câmara [dos Deputados], se não coaduna com essa
dizimação em massa, tem a obrigação de abrir um processo de impeachment”,
cobrou Humberto.
“A
saída de Nelson Teich expõe a gravidade da crise institucional que atravessamos
no país. Bolsonaro ignora todas as recomendações da academia e a experiência
mundial, colocando em risco a vida de milhões de brasileiros. De fato, o
presidente é hoje a maior ameaça à saúde pública do Brasil”, afirmou Serra.
Manifestações
de outros líderes
Eliziane
Gama (Cidadania-MA):
"[Teich] foi forçado a sair porque não concordou com a ideia irresponsável
de defender o uso deliberado da cloroquina e do fim do isolamento social. É um
governo contra a ciência. O covid-19 deve estar batendo palmas para o governo
federal hoje. Com a pandemia em crescimento, o presidente deixa em frangalhos a
sua principal estrutura de combate. Atitude impensável, incompreensível!"
Randolfe
Rodrigues (Rede-AP):
"Ninguém aguenta a inaptidão de Bolsonaro, nem os mais omissos e ineptos!
Agora, quem tem que cair é o próprio Bolsonaro, um negacionista, inimigo da
ciência, da saúde e da vida! Bolsonaro se aliou ao coronavírus e qualquer
gestor, por pior que seja, não supera Bolsonaro! Nosso país está entregue ao
caos, sem presidente, sem ministro!"
Weverton
(PDT-MA):
"Inacreditável! O ministro Nelson Teich pediu demissão e se tornou, em um
mês, o segundo ministro da Saúde a não aguentar as interferências sem sentido
do presidente. Sem uma política centralizada de saúde, mais pessoas vão adoecer
e morrer de covid-19. O Brasil está à deriva."
Major
Olimpio (PSL-SP):
"Lealdade é louvável, mas, subserviência é covardia. Parabéns Nelson
Teich. Que venha o próximo!"
Manifestações
de outros senadores
Kátia
Abreu (PP-TO):
"Entre a cloroquina e seu [registro no] CRM, o ministro escolheu certo."
Paulo
Paim (PT-RS): "Em
três meses de pandemia, vamos ter um terceiro ministro da Saúde. O povo está
abandonado à própria sorte. Pessoas e famílias inteiras sofrendo com mortes de
entes queridos. Com o país sem rumo, onde vamos parar?"
Leila
Barros (PSB-DF):
"É triste ver a saída de mais um ministro da Saúde durante esta pandemia.
Espero que a escolha do sucessor seja baseada em critérios técnicos e que os
motivos da saída de Nelson Teich sejam esclarecidos."
Fabiano
Contarato (Rede-ES):
"O Ministério da Saúde, sem se guiar pela Ciência, não gozará de nenhuma
credibilidade. Os militares prestam relevante serviço ao país, mas na Defesa
Nacional. A saúde pública não admite experimentalismos insensatos."
Jean
Paulo Prates (PT-RN): "Enquanto
o mundo luta contra um virus letal, o presidente do Brasil reveza ministros até
encontrar um/a que acate e implemente exatamente suas convicções totalmente
leigas a respeito do combate à covid-19, incluindo protocolos ineficazes e
tratamentos não comprovados. Perdido, Bolsonaro procura responsáveis a esmo. O
presidente do Brasil só tem agido para confundir e atrapalhar."
Angelo
Coronel (PSD-BA):
"O vice Mourão disse que precisamos de entendimento entre os poderes. Será
que ele já conversou com o presidente? Todas as querelas e polêmicas têm sido
geradas pelo Executivo."
Fernando
Collor (PROS-AL):
"Postei isso em 29/04 e parece que eu tinha razão: “Na audiência do
Senado, o ministro da Saúde, Nelson Teich, foi evasivo sobre o isolamento,
demonstrou desconhecimento de questões práticas e dependeu da assessoria para
responder. O norte parece que não virá do ministério”."
Dário
Berger (MDB-SC):
"Lamento e considero preocupante a demissão de mais um ministro do
governo. Especialmente por se tratar do gestor da pasta que é a responsável por
coordenar as ações de combate a mais grave crise de saúde pública que o Brasil
e o mundo enfrentam. Não podemos admitir que as crises políticas tirem o foco
principal neste momento, que é o de salvar vidas."
Paulo
Rocha (PT-PA):
"Alguma dúvida de que Bolsonaro está brincando de governar um país e o
preço desse jogo são nossas vidas? Todos os que discordam de Bolsonaro pedem
para sair da barca furada do governo. Óbvio. Ninguém que leve o mínimo a sério
a crise que o país vive vai concordar com ações irresponsáveis. Teich foi
apenas mais um. A teimosia e ignorância do presidente levam o nosso país ao
caos."
Alessandro
Vieira (Cidadania-SE):
"Bolsonaro não quer um médico para cuidar da saúde dos brasileiros. Quer
um charlatão fanático. Ou um militar burocrático capaz de seguir ordens sem
pensar. Dois ministros da saúde demitidos em plena pandemia não é só sinal de
incompetência. É crime e está nas margens do homicídio."
Jaques
Wagner (PT-BA):
"Eu não estranho a saída. Estranho é um médico sério ter entrado neste
Ministério."
Antonio
Anastasia (PSD-MG):
"O nosso único foco nesse momento deve ser salvar vidas e preservar a
saúde das pessoas. Essa instabilidade é prejudicial ao país, ao planejamento e
continuidade das políticas públicas. O Brasil inteiro exige responsabilidade e
ações coerentes do presidente. O que está em jogo é o bem maior dos cidadãos, a
vida!"
Esperidião
Amin (PP-SC): "Eu
acho que a saída do Nelson Teich foi uma coisa muito grave e ruim para o país.
É a grande guerra brasileira. A guerra da preservação de vidas. É a batalha
pela preservação da vida dos brasileiros. Ver com menos de um mês de atividade,
o Ministro da Saúde pedir demissão por contrariedade técnica, é algo muito
grave, muito sério e lamentável."
Plínio
Valério (PSDB-AM):
"Essas mudanças de ministros após algum desentendimento fazem lembrar o
presidente do time de futebol ameaçado de rebaixamento. Trocar ministros da
Saúde em plena – leia-se: tempestade – não vai fazer parar a ventania. A
tempestade continua."
Soraya
Thronicke (PSL-MS):
"Teich foi técnico, se manteve firme às suas convicções, admiro essa
fidelidade aos princípios. Gratidão."
Flávio
Arns (Rede-PR): "A
exoneração do ministro da Saúde, Nelson Teich, deixa o Brasil perplexo. Ele
estava dialogando com secretários estaduais e municipais de saúde. Milhares de
pessoas estão morrendo ou sendo infectadas. O país precisa ter rumo na área da
saúde para embasar a recuperação econômica."
Rodrigo
Cunha (PSDB-AL):
"A pandemia do coronavírus atinge seu momento mais dramático, com as
mortes chegando à casa de horrorizantes 800 por dia. A troca do segundo
ministro da Saúde em plena crise escancara a face do desprezo do governo pela
doença, que deveria estar sendo combatida diuturnamente à luz da ciência, e não
de teses que carecem de embasamento técnico. A tragédia do coronavírus ganha
hoje mais um soturno capítulo."
Agência
Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
Fonte:
Agência Senado
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