Conversão de efluentes
A Embrapa Agroenergia
identificou espécies de microalgas que podem ser cultivadas em resíduos
líquidos de processamento em agroindústrias, transformando os efluentes em
matéria-prima renovável para biocombustíveis, rações, cosméticos e vários
outros produtos.
A pesquisa, que durou três
anos, investigou efluentes como a vinhaça, formada na produção de açúcar e
etanol de cana-de-açúcar, e o pome, gerado no processamento de dendê,
aproveitado na fertirrigação das plantações.
A produtividade das microalgas
pode ser de dez a 100 vezes maior do que de cultivos agrícolas tradicionais
Em vez das utilizações atuais,
passar a utilizar esses efluentes como meio para produzir as microalgas deverá
agregar valor às cadeias produtivas da cana e do dendê, produzindo mais
biomassa e óleo para obter energia e bioprodutos.
Genética para aumentar
produtividade
Já existem pelo menos quatro
empresas no Brasil produzindo microalgas: duas no Nordeste, com foco em
nutrição humana e animal, e duas no interior de São Paulo, atendendo indústrias
de cosméticos e também de rações, além de projetos para tratamento de
efluentes.
Um maior avanço do setor
depende do desenvolvimento de tecnologias sobretudo para a redução do custo de
produção. Isto é essencial para alcançar mercados que necessitam de grandes
volumes e de preços baixos, como é o caso dos biocombustíveis - um estudo
encomendado pelo governo dos Estados Unidos mostrou que o uso de linhagens
modificadas geneticamente chega a reduzir em 85% o custo de produção.
O primeiro trabalho da equipe
da Embrapa visava encontrar espécies de microalgas capazes de crescer na
vinhaça, em ambientes industriais e em biomas brasileiros (Amazônia, Pantanal e
Cerrado). Duas espécies foram identificadas que podem ser cultivadas nesse
efluente, com bom rendimento - uma delas era desconhecida pelos cientistas. A
análise dos componentes da biomassa das duas microalgas indica maior
concentração de carboidratos e de proteínas do que de lipídeos e carotenoides,
que as tornam mais adequadas para a produção de etanol do que de biodiesel -
além dos biocombustíveis, elas podem ser utilizadas na fabricação de rações.
As duas espécies selecionadas
realizam fotossíntese, mas também utilizam a matéria orgânica da vinhaça para
crescer. Não chegam a reduzir significativamente a carga orgânica e, por isso,
não podem ser utilizadas isoladamente para tratamento do efluente. Mas
possibilitam que a vinhaça seja usada para fertirrigação de canaviais após a
retirada das microalgas.
A equipe da Embrapa e de
várias universidades está empenhada agora em construir ferramentas que permitam
a modificação genética das espécies selecionadas para crescimento na vinhaça e
no pome, com o objetivo de potencializar o rendimento das microalgas.
Microalgas
As microalgas são organismos
unicelulares e microscópicos que vivem em meios aquáticos e têm característica
curiosa: não são plantas, mas são capazes de realizar fotossíntese e de se
desenvolver utilizando luz do Sol e gás carbônico. Reproduzem-se muito
rapidamente, proporcionando grande quantidade de óleo e de biomassa. A
produtividade pode ser de dez a 100 vezes maior do que a de cultivos agrícolas
tradicionais. Isso chamou a atenção de setores que necessitam de grandes
quantidades de matéria-prima, como os biocombustíveis.
Os óleos produzidos por
algumas espécies de microalgas quase sempre contêm compostos muito valiosos
como, por exemplo, ômega 3 e carotenoides. Por isso, elas também encontram
espaço em indústrias que atendem nichos de mercado e pagam mais caro por matérias-primas
com propriedades raras. É o caso dos cosméticos e dos suplementos alimentares.
Com informações do MAPA,
Imagem: Embrapa/Vivian Chies
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