Em quarentena na Agência
Nacional de Vigilância Sanitária
Finalizo um período, deixo a
Anvisa, minha casa e minha escola desde 2005. É como se estivesse saindo da
casa dos pais.
Parto! Já parti algumas vezes.
Confesso que é preciso um pouco de audácia, mas os desafios nos fazem renovar a
esperança de que a cada dia contribuímos para um mundo melhor.
Pela Anvisa passei por
diversas áreas, desde a primeira, a GGGAF, até a mais famosa diretoria de
registro e autorizações, afinal, foram quase 15 anos.
Se Deus quiser, não será a
última.
Gosto de partir. É bem melhor
que chegar. Sabe-se o que deixou; bom ou ruim, bem ou mal, sabe-se. A chegada é
dúvida, é escuridão. No escuro, podemos nos agarrar à primeira luz e ela pode
ser fraca, pode ser falsa...
Mas o chegar e o partir são
bons. Permitem-nos conhecer coisas, fatos, pessoas. Conhecendo-se, aprende-se.
O conhecimento ajuda a viver, a controlar o cérebro.
Aprende-se a viver, a viver
bem. Muitos procuram ser felizes, e poucos sabem. Falta-lhes conhecimentos. Das
coisas, dos fatos, das pessoas. Viver é uma arte e, como outra qualquer, se
estuda, se aprende, se vive... É coração e, principalmente, cérebro. A emoção,
embora linda, estraga a pessoa, se não houver a razão. A emoção mata a razão.
Emocionados, não raciocinamos perfeitamente. Daí minha constante procura em
separar as coisas racionais das emocionais. O trabalho é racional; a amizade,
emocional. O colega amigo tem que ser separado do amigo colega. Não conseguindo
isto, você supervaloriza um, em detrimento do outro. Enganaram-se, em alguns
lugares, os que pensaram que eu não conseguiria isto. Aqui mesmo, na Anvisa,
existem servidores que entraram comigo, alguns conheci suas trajetórias na
escola. Nem por isso tiveram tratamento diferenciado dos demais. Se fui duro,
fui com todos; se fui amigo, fui com todos; se ajudei, ajudei a todos...
Viver é bom. Viver faz bem.
Mudar ajuda. Já vivi e convivi com muita gente. Assim, vou aprendendo a viver.
Aprendendo o que tem de bom e de ruim. De bom, para um dia melhor fazer. De
ruim, para melhor saber me defender. A vida é um aprendizado constante.
Parto tranquilo e feliz. Se
não servi a todos que esperavam, servi à Anvisa. Cumpri minha missão. Se cometi
alguma injustiça, o fiz inconscientemente; julgava que aquele era o caminho
correto. Hoje, julgo que errei, seja em algum procedimento, em alguma decisão,
em alguma sugestão. Não me arrependo. Foi uma lição... isso é viver.
No início sentirei falta, os
dias na Anvisa são muito intensos. Alguns sentirão a minha ausência. O tempo,
grande remédio, se encarregará de supri-la.
Tenho a certeza na
continuidade de um projeto de servir à saúde e ao bem-estar, que se iniciou a
tempos atrás e não termina agora.
Os lápis e os livros que deixo
são apenas uma recordação. O que sobrará mesmo são os votos, as teses
alcançadas, e as inesquecíveis lições que todos aportaram neste projeto.
Não me despeço. O mundo é
pequeno, o Brasil menor ainda. Outro dia nos encontraremos; reaviveremos o
convívio.
Um grande abraço e sucesso a
todos!
Renato Alencar Porto
* Carta enviada aos servidores
por ocasião do meu desligamento da diretoria da Anvisa.
0 comentários:
Postar um comentário