Cerca
de 1,1 bilhão de pessoas dos 12 aos 35 anos de idade correm o risco de terem
perdas auditivas irreversíveis porque escutam música muito alta em fones de
ouvido. Atualmente, problemas de audição provocados por causas diversas já
afetam 360 milhões de indivíduos, dos quais 32 milhões são crianças.
Os
números foram divulgados nesta sexta-feira (3), Dia Mundial da Audição, pela
Organização Mundial da Saúde (OMS). A agência da ONU aproveita a data para
pedir a governos, setor privado e sociedade civil que combatam perigos capazes
de levar à surdez. Ameaças incluem desde infecções durante a gravidez, que
podem prejudicar a audição dos bebês, até fatores ambientais, como a exposição
a sons muito altos.
A
OMS define como audição normal a de pessoas que conseguem escutar sons de até
25 decibéis ou mais baixos nos dois ouvidos. Quem ouve menos do que esse limiar
teria algum tipo de perda auditiva.
O
organismo internacional divide as causas das deficiências em duas categorias.
As chamadas causas congênitas são: doenças como rubéola congênita, sífilis e
outras infecções durante a gravidez; nascimento abaixo do peso ideal; falta de
oxigênio na hora do parto; uso inapropriado de medicamentos ao longo da
gestação; e icterícia neonatal, um problema de saúde que pode danificar o nervo
auditivo em recém-nascidos.
A
outra categoria são as causas adquiridas — meningite, sarampo, caxumba,
infecções crônicas no ouvido, otite média, lesões na cabeça ou no ouvido e uso
de alguns remédios, como os utilizados no tratamento de infecções neonatais,
malária, câncer e tuberculoses agressivas.
Esse
conjunto de fatores também inclui a exposição a quantidades excessivas de ruído
— seja no espaço de trabalho, como o contato com o barulho de máquinas e
explosões, seja em atividades recreativas, como escutar música em fones de
ouvido por tempo prolongado e a volumes muito altos ou frequentar shows, bares
e eventos esportivos.
Segundo
a OMS, nos países de média e baixa renda, cerca de 50% das pessoas de 12 a 35
anos escutam música em intensidade e duração consideradas perigosas para a audição.
Quarenta porcento do mesmo grupo está suscetível a níveis prejudiciais de ruído
em bares, boates e competições esportivas.
O
envelhecimento e o acúmulo de cera — ou outras partículas estranhas — também
são citados pela OMS como causas adquiridas.
Dados
coletados pela Organização mostram que as perdas auditivas custam de 67 bilhões
a 107 bilhões de dólares anuais aos sistemas de saúde. Os valores estimados não
incluem as despesas com aparelhos auditivos e próteses cocleares pessoais.
Outro custo anual envolve as perdas de produtividade — calculadas em 105
bilhões de dólares — causadas pelo desemprego ou pela aposentadoria precoce.
A
agência da ONU também mensurou que dificuldades de comunicação, isolamento
social e estigma associados às dificuldades de audição geram prejuízos de 573
bilhões de dólares. Para dar educação adequada às crianças na faixa etária dos
cinco aos 14 anos, são necessários 3,6 bilhões de dólares adicionais em
investimentos no ensino.
Prevenção
Para
reverter esse cenário e proteger os ouvidos das atuais e futuras gerações, a
OMS recomenda que países invistam na prevenção. Até 60% dos casos de perda
auditiva entre jovens com até 15 anos podem ser prevenidos, sobretudo com ações
contra o sarampo, caxumba, meningite, infecções por citomegalovírus e otite
média crônica.
Essas
complicações de saúde representam (31%) das causas de deficiências nas audições
de crianças e adolescentes. Algumas delas podem ser evitadas com vacinas ou com
acompanhamento médico adequado.
O
monitoramento correto da gravidez também é uma arma contra a perda auditiva,
uma vez que problemas na gestação e no parto estão por trás de 17% das
ocorrências de disfunções da audição entre crianças.
Escuta
‘segura’
A
OMS também recomenda o que descreve como “escuta segura”, ou seja, práticas que
protegem os ouvidos de ruídos muito altos em atividades ocupacionais ou de
lazer. Segundo a agência da ONU, a “escuta segura” depende da intensidade,
duração e frequência dos estímulos sonoros.
O
limiar de segurança definido por especialistas e pela OMS é de sons com volume
de 85 decibéis, que podem ser ouvidos por um máximo de oito horas. Conforme o
volume aumenta, o tempo seguro de exposição cai dramaticamente.
Por
exemplo, o som produzido pelo trem do metrô — estimado em cem decibéis — pode
ser escutado sem danos à saúde por apenas 15 minutos por dia.
O
som produzido por aparelhos pessoas para ouvir música pode variar de 75
decibéis até 136 decibéis — o que exige dos usuários mais atenção na hora de
utilizar fones de ouvido. Em boates e bares, o volume pode chegar até 112
decibéis.
As
práticas de “escuta segura” incluem o uso de tampões para os ouvidos, capazes
de reduzir em até 45 decibéis a altura do que é escutado, e também de fones que
isolam o ruído do ambiente — o que previne o usuário desmartphones ou players de
MP3 de aumentar demasiadamente o volume.
A
OMS também sugere que as pessoas recorram a aplicativos que medem o nível de
exposição a estímulos sonoros. Isso dá autonomia para que os próprios
indivíduos consigam se proteger.
A
agência faz um apelo ainda a governos, para que implementem leis mais rigorosas
contra ruídos excessivos em espaços de lazer e realizem campanhas de
conscientização.
O
setor privado, de acordo com o organismo internacional, também deve se envolver
na prevenção das perdas auditivas. Fabricantes de celulares e aparelhos de
música podem embutir mecanismos que alertam usuários sobre riscos à audição ou
que lhes permitam definir limites seguros de volume.
0 comentários:
Postar um comentário