Destaque nacional em doações e transplantes de
órgãos, Brasília já superou o número de transplantes de coração feitos no ano
passado. De janeiro a setembro de 2016, 31 procedimentos desse tipo foram
feitos no Distrito Federal. Em 2015, o total foi de 30 transplantes cardíacos.
Os dados são do último balanço publicado pela Associação Brasileira de
Transplante de Órgãos.
Um dos 31 pacientes que ganharam um novo coração
neste ano, Aroldo José da Silva, de 57 anos, adotou um número da sorte e uma segunda
data de aniversário. Após três tentativas frustradas por falta de
compatibilidade, ele passou pela cirurgia em 29 de fevereiro no Instituto de
Cardiologia do DF (ICDF). Nascido no mesmo dia do mês de setembro, ele arrisca
a sorte com o número na loteria.
“Ainda não ganhei nenhum prêmio. E só faço
aniversário de quatro em quatro anos”, diverte-se. A disposição de Aroldo é uma
realidade bem diferente da que ele viveu no período antes do procedimento. “Não
aguentava nem subir uma escada”, recorda. Agora, faz questão de usar os degraus
para subir ao apartamento em que mora no Sudoeste. Além disso, mantém uma
rotina de exercícios com caminhadas e uso dos aparelhos de ginástica dos pontos
de encontro comunitário.
Especialistas da área atribuem o aumento
significativo no número de transplantes de coração a um conjunto de fatores que
inclui melhor logística de transporte. “Os hospitais também estão mais bem
estruturados, e conseguimos um maior número de órgãos por autorização”, pontua
a diretora da Central de Transplantes da Secretaria de Saúde, Daniela Salomão.
Isso significa maior quantidade de doadores múltiplos
de órgãos — enquanto de janeiro a setembro de 2015 houve 22 doadores com essa
condição, no mesmo período de 2016, foram 33.
Cardiologista do departamento de transplante
cardíaco do ICDF, Marcelo Ulhoa lista como um dos motivos para a superação dos
resultados o fato de o instituto ser uma referência nacional para o
procedimento. “A parceria com a Força Aérea Brasileira [para transporte dos
órgãos] e a visibilidade que tem se dado, mostrando resultados satisfatórios,
ajuda as pessoas a doarem os órgãos”, acrescenta o médico.
O instituto é uma entidade sem fins lucrativos e o
único credenciado em Brasília para esse tipo de transplante. Atua, por meio do
Sistema Único de Saúde, com recursos dos governos local e federal.
Pacientes
com indicação para transplante migram para Brasília
Valterino Fernandes, de 56 anos, tem uma história
semelhante à de Aroldo. Ambos deixaram suas cidades e famílias para buscar
tratamento e transplante em Brasília. O primeiro saiu de Unaí (MG), e o
segundo, de Nova Andradina (MS).
Em comum, eles também contam com o apoio das
esposas, que vieram para acompanhá-los. “Deixei meu emprego como vendedora e
vim. Fiz até promessa”, conta Maria Helena da Silva, de 55 anos, que doou 45
centímetros de cabelo para pacientes de câncer depois que Aroldo conseguiu um
coração compatível. Para matar a saudade de casa, ela colou um grande mural de
fotos na parede da sala.
Na mesma linha, Eliana Fernandes, de 42 anos, segue
na cidade com o marido. Ele foi transplantado em 27 de maio deste ano. Recuperar
as datas é fácil, pois ela anota tudo em um pequeno caderno. Internado na
unidade de terapia intensiva (UTI) em 23 de fevereiro por causa do estado
debilitado, Valterino ainda enfrentou complicações nos rins e precisou de um
duplo transplante: coração e rim.
Para ele, a espera por um órgão foi a parte mais
difícil. “Eu pensava que alguém tinha de morrer para eu sobreviver. E você não
deseja a morte.” Com visitas limitadas na internação, ele contou com o apoio da
equipe médica do ICDF para enfrentar os momentos de tristeza. “Sempre recebia
uma psicóloga, e viramos uma família no hospital. Até festa fizeram para mim.”
O tratamento dos pacientes é integrado, com a
atuação de diversos profissionais, como psicólogos, nutricionistas e
fisioterapeutas, além dos cardiologistas. “Hoje a gente já se estabeleceu como
uma referência no Centro-Oeste. Também recebemos muitos do sul da Bahia, de
Goiânia (GO), do norte de Minas Gerais, de Manaus (AM), do Tocantins”,
exemplifica Ulhoa.
Balanço
de transplantes em Brasília de janeiro a setembro de 2016
A capital também se manteve como destaque nas
cirurgias de fígado. De janeiro a setembro deste ano, foram 55. Considerando a
proporção de habitantes, por milhão de população (PMP), o DF é o primeiro nesse
tipo de transplante, com 25,2 PMP, e está no mesmo patamar quanto aos
procedimentos de coração (31 no total, 14,2 PMP), córnea (354 no total e 161,9
PMP) e medula óssea (53 no total e 24,2 PMP).
Brasília ainda se recuperou no ranking de
transplantes de rim. Em todo o ano passado, foram 84 cirurgias desse tipo
contra 89 apenas até setembro deste ano. Assim, a cidade retomou os parâmetros
de 2014, após dificuldades na área. “2015 foi um ponto fora da curva por
problemas administrativos. Passamos um período sem fazer [o procedimento], mas
conseguimos reestruturar”, explica a diretora da Central de Transplantes da
Secretaria de Saúde, Daniela Salomão.
Fonte:
Agência Brasília
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